sábado, 12 de dezembro de 2009

Série Entre-Vistas com Emerson de Paula

Demorou, mas a entrevista de Emerson de Paula já está aqu no ar. Ressaltamos apenas que Emerson de Paula não é mais Chefe da Seção de Artes da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo de Ponte Nova, cargo que ocupava na ocasião da entrevista. Isso deve-se ao fato de ter sido aprovado em concurso para Professor Substituto da Escola de Artes da UFOP, queremos desde já parabenizá-lo por mais esta conquista. No momento Emerson está divulgando a peça A Linha da Peça que escreveu e está dirigindo, a peça conta ainda com trilha sonora composta por Carlos Oliveira e Joe. Abaixo um pequeno texto comentando a peça, o texto é de João Mattos e foi publicado originalmente no site Pontenet:

Existem momentos, existem acontecimentos ou fatos que me fazem sentir orgulho de minha terra, da minha Ponte Nova. Vou falar então do espetáculo teatral “Na Linha da Pipa” que surpreende pela qualidade sem precisar grandes investimentos. O palco praticamente vazio, um espaço desprovido de qualquer adereço é magicamente preenchido de toques, de luzes, de sons e de sensibilidade.A atuação das atrizes Michelle e Paluana em seus diálogos e monólogos, não ficam devendo nada às deusas dos palcos brasileiros... às grandes atrizes globais. Elas conseguem envolver a platéia com expressões e dicções perfeitas num texto também envolvente.

A direção impecável é do Emerson de Paula

Ficha completa do espetáculo:

EMERSON DE PAULA

ATRIZES-BAILARINAS: MICHELLE GABRIELLI E PALUANA KERLEN

CLASSIFICAÇÃO: 14 ANOS

TRILHA SONORA ORIGINAL: CARLOS OLIVEIRA E JOE

MÚSICA TEMA: “O QUE AINDA RESTOU”

FOTOGRAFIA: LEO MOREIRA

ARTE GRÁFICA: MARCELO CARVALHO

FIGURINO: MARTA LEAL SOARES

ILUMINAÇÃO/SONORIZAÇÃO: SOUND SONORIZAÇÃO E ILUMINAÇÃO

VÍDEO: LEONARDO STOPA

PRODUÇÃO: NAED – NÚCLEO ARTÍSTICO EDUCACIONAL

CONTATOS: naednucleo@yahoo.com.br/31-88733788

J.Mattos

A nota acima oferece uma descrição do que é a peça, contudo não substitui a experiência de assiti-la ao vivo, portanto, não fiquem parados, procurem assitir à peça. Ela estava em cartaz no Teatro Salesiano, contudo falta-nos saber se a peça ainda esta em cartaz neste local. Sem mais bla, bla, bla, fiquem com a entrevista.

Born To Lose: Se a arte "é a capacidade de incomodar os sentidos dos outros" ela não pode ser considerada contemplativa, pois neste caso ela deveria agradar aos sentidos. Desse modo à arte cumpriria fazer com que as pessoas estivessem numa situação de "incomodo" constante. Esta função da arte seria, portanto, de suma importância na medida em que colocaria o indivíduo em constante atividade. Contudo a questão é: que espécie de atividade é esta oriunda do incomodo que a arte provoca nos sentidos? Ela cumpre uma função social ou estética?
Emerson de Paula: Acredito que se algo lhe chama a atenção e lhe faz ficar contemplando - o , o seu sentido já foi incomodado e a contemplação não é algo estático, contemplar também é movimentar. Realmente concordo que o incômodo causado nos sentidos através da arte gera atividade, desequilíbrio, movimento. Defino esta atividade como aquele canal que lhe faz transitar da admiração a reflexão. Este percurso, gerado por essa tal atividade, é que fará com que meus sentidos definam, ou não, se o que vejo é social(consigo transpor algo para a vida diária) ou estético, digo aqui estético como o incômodo que sofre meu olhar, comunica comigo, mostra-me uma linguagem e no contato, modifica-me. Então, esta atividade é ora social, ora estética, ora as duas. Quando não se há atividade no receptor-público não há arte. Mas esta atividade é interna, é sinestésica, não é o movimento do corpo, é o corpo em movimento, é atividade interna, é inquietação. É o que você está fazendo comigo agora. E esta dúvida que estou em saber se respondi pergunta....(risos)

Born To Lose: Respondeu. Veja, acredito que a entrevista deve ser um processo de construção conjunta (entre entrevistador e entrevistado) das questões abordadas, a fim de evitar que a entrevista se torne o preenchimento efadonho de um questionário. Gostaria que você falasse um pouco a respeito do trabalho que está desenvolvendo no momento.

Emerson de Paula: Bom no momento sou Chefe da Seção de Artes da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo de Ponte Nova. Além disso leciono a disciplina teatro no colégio Salesiano Dom Helvécio e na Escola Nossa Senhora Auxiliadora. Também possuo uma empresa-grupo que chama-se NAED - Núcleo Artístico Educacional que desenvolve trabalhos na àrea de arte-educação seja através de prestação de serviços especializados ou consultoria pedagógica até teatros-empresariais, oficinas, palestras e cursos. Claro que também o Núcleo funciona como um grupo de teatro e temos uma produção artística constante. Em outubro estrearemos o espetáculo NA LINHA DA PIPA. Este texto foi escrito por mim e será a estréia do NAED enquanto grupo de teatro à sociedade pontenovense. Além de ter um elenco pontenovense, estamos trabalhando com músicos pontenovenses pois o espetáculo tem trilha sonora original executada ao vivo. Temos a preocupação em formar público para espetáculos artísticos e oferecer a cidade o contato com um tipo de fazer cultural que transite por várias linguagens.

Born To Lose: Bem, vamos por partes. rs. Minha próxima pergunta tem um tom de provocação, não feita por mim, mas por Platão. No livro XII da República Platão expulsa os artistas da cidade ideal que ele havia arquitetado nos 11 livros anteriores. O argumento formulado por Platão para justificar esta decisão sustenta que o artista não busca a verdade e o máximo que pode alcançar são as aparências. Por não buscar a verdade, o artista não teria condições de administrar a cidade. Platão vai mais longe, o artista deve ser banido, porque ao fabricar aparências (as pínturas que são cópias de uma paisagem ou figura e não a própria paisagem, por exemplo), ao estimular os sentidos e não a alma, ele desviaria as pessoas do caminho da verdade, sendo nocivo ao bem comum. Tendo por pano de fundo esta provocação feita por Platão, gostaria que você me dissesse como você vê a relação entre arte e política, há uma articulação possível? Caso haja, uma das duas partes estaria subordinada à outra, ou seja, a arte seria o guia da política ou a política o guia da arte no momento de tomar as decisões acerca do que deve ser feito para desenvolver a cultura e a arte em Ponte Nova?

Emerson de Paula: Bom, como você mesmo começou, vamos por partes (rs). Entendo política como um jogo, arte de direcionar, um sistema, princípios. Pensando assim a arte teria uma relação direta com a palavra política. Acredito que todo artista é um ser político e político não quer dizer partidário. Todo artista tem objetivos com sua linguagem, tem propostas e joga contra um sistema que nos bombardeia a todo tempo com formas de não estimulação do pensamento e do olhar crítico, tão pouco da ampliação de conceitos. Por exemplo, hoje eu faço parte de uma instituição pública responsável pela gestão cultural de uma cidade. Confesso que quando estava “fora” desse sistema, eu era bem mais utópico. O sistema nos deixa mais realistas,práticos e objetivos. A política na arte é fazer com que o artista entenda que produção artística só acontece se vier junto com uma produção cultural. O artista precisa aprender a ser um gestor de sua própria produção, precisa transitar entre o fazer e o pensar, entre padronizar e inovar mas sempre construindo pontes, redes. Pensando então em Ponte Nova, uma cidade da zona da mata mineira e que geograficamente é uma cidade de passagem, de ligação entre várias cidade e regiões, percebo que a primeira decisão a ser tomada é unir os pontos de cultura da cidade. Aqui as manifestações são fragmentadas e algumas desconhecidas. Mesmo assim afirmo que a cidade tem uma produção cultural significativa. O setor musical é o que mais se destaca, mas temos uma produção teatral que vem se consolidando juntamente com uma produção em dança e a área literária que está em constante processo de produção. A política em Ponte Nova precisa criar mecanismos de fomento mas principalmente de manutenção da atividade cultural em nossa cidade. A articulação entre política e cultura é possível através de projetos culturais em bairros e do estímulo aos mais diferentes artistas não dando oportunidades apenas aos mesmos. É arte num sentido cultural mas primeiramente social. Uma decisão política no campo artístico pontenovense seria criar um espaço descente para a apresentação da produção artística local e do constante processo de cursos de produção cultural. A arte deve vir primeiro que a política, mas não posso deixar de dizer que sempre será uma relação que estará na eterna zona de conflito. Ambos os lados possuem fortes interesses. É ter cuidado com o pão e circo ou só o circo. O que penso é que em Ponte Nova quando se houver a relação ARTE-POLÍTICA deve haver a idéia de que cultura também é fator de decisão; não preciso oferecer ao povo aquilo que a televisão oferece maçiçamente. Tem que ser obrigatório o oferecimento de outras linguagens, novas propostas. Ofereça ao povo que o povo responde. E o mais importante nesta terra aqui: a cultura tem que incomodar os sentidos dos outros e não fortalecer o ego dos promotores culturais entende? Um passo importante foi dado: o encerramento do Festival de Inverno de Ponte Nova 2009 trouxe a Palmeiras um dos maiores nomes da mpb que é o cantor e compositor João Bosco. Além de ser um retorno as origens para o cantor foi um momento histórico no cenário cultural desta cidade. Histórico no que tange a memória e identidade artística desta terra e na qualidade do show gratuito oferecido a todos. Esta foi uma decisão artístico-política. Platão me provoca dizendo que o artista fabrica aparências. A política também fabrica. O artista tal qual um candidato a um governo, convence seu espectador – eleitor – pela performance. O que definirá são os objetivos desta performance. Platão talvez tenha expulsado os artistas porque os mesmos estimularam os sentidos do povo e sua cidade ideal passou a ser analisada, questionada como talvez algo apenas aparente, figurativo. Afinal o artista utiliza-se da fantasia para representar-questionar a realidade. (rs)

Born To Lose: Quero ressaltar a importância de uma constatação na resposta anterior, que aliás, reflete meu modo de pensar a arte em Ponte Nova. Refiro-me à questão da fragmentação dos artistas pontenovenses. Incrível haver tantas pessoas fazendo música, artes plásticas, poesia e no entanto não haver uma articulação entre estas pessoas de modo a promover conjuntamente a arte em Ponte Nova. Parece que estas pessoas não se deram conta de que buscam algo em comum: a consolidação de uma identidade artística em Ponte Nova. Afirmo que há está intenção em comum pelo fato de conhecer muias destas pessoas e ouvir a mesma coisa de todas elas. O mais estranho é que todos se conhecem, muitos são amigos de infância e no entanto cada um está fazendo seu trabalho isoladamente. Embora faça esta observação, estou ciente de estar analisando estes acontecimentos de longe, por isso quero perguntar em primeiro lugar se esta impressão tem algum fundamenteo e em segundo lugar, caso haja fundamento, saber como você vê esta situação, porque não há um diálogo entre os artistas pontenovenses?

Emerson de Paula: Mesmo você estando longe no momento, você conhece bem a realidade pontenovense até porque é filho de um grande artesão de nossa cidade. Há fundamento em sua análise. O cenário artístico aqui sofre uma fragmentação. Portanto farei algumas considerações. Uma das linguagens artísticas mais fortes de nossa cidade é a música. Mas durante anos ela ficou destinada a uma certa elite, a famílias tradicionais, a um determinada estética. Hoje esse cenário vem mudando. Atualmente a fragmentação está menor mas ainda não há uma unidade. Todo artista quer expressar sua linguagem, estabelecer diálogo mas ser singular. Sua arte pode até ser singular mas no mundo digital de hoje seu fazer artístico deve ser plural. O artista pontenovense hoje precisa aprender a estabecer redes, zonas de contato sem perder sua identidade. Acho que os músicos aqui possuem uma boa relação mas fica mais no campo pessoal do que profissional. Acho que o fazer teatral aqui é o que caminha mais junto. Atores/atrizes de um grupo trabalham com outros grupos, os grupos fazem produção em conjunto, estabelecem trocas de material, etc. Mas esse lamento de todos nós artistas pontenovenses precisa virar ação. Estou fazendo minha parte: tenho ótimas relações com o grupo de teatro de Karran ou o grupo Viver com Arte. Atualmente, meu grupo, o NAED - Núcleo Artístico Educacional - estreará um espetáculo totalmente pontenovense: texto e direção sob minha responsabilidade, uma atriz daqui, outra de Viçosa e a trilha sonora original e executada ao vivo pelos músicos Joe e Carlos Oliveira. Esta é minha forma de começar a fazer algo. Os espetáculos produzidos pelo Curso Livre de Teatro do CSDH, o qual faço parte, sempre contam em seu elenco com bailarinos, escritores, atores, associações da minha cidade. É a minha forma de estabelecer pontes e incomodar os sentidos dos outros.

Born To Lose: Realmente Emerson, as pessoas que fazem teatro em Ponte Nova elas conseguem se articular e realizar projetos conjuntamente. Isso pra mim é um mistério, como se fosse próprio do fazer teatral a necessidade de interação, no sentido de que o teatro não possa ser realizado isoladamente, dependesse de um diálogo constante, diferente de outras formas de arte como a poesia, a literatura, as artes plásticas que são fazeres artísticos mais solitários. Mesmo a música, que geralmente é feita em conjunto, não possui a mesma necessidade de interação. Geralmente as bandas são grupos fechados, cada qual faz a sua sonoridade de forma isolada. Os grupos de teatro aqui em Salvador, principalmente da escola de teatro aqui da UFBA, tambem possuem esta caractérística, porque não dizer necessidade, de interagir, de agir conjuntamente. Quero então fazer duas perguntas à você, primeira, haveria realmente a presença desta necessidade de interação no teatro, quero dizer, poderiamos dizer que a essencia do teatro se define pela necessidade efetiva de interação? A segunda pergunta só tem sentido de ser respondida caso a resposta da primeira seja negativa (rs): porque as pessoas ligadas ao teatro procuram sempre a interação?

Emerson de Paula: Com certeza. É aquela velha história, teatro é trabalho de grupo. Mesmo quando você assiste um monólogo você vê um ator em cena mas existe um diretor, um iluminador, um técnico, entre outros, por trás de tudo aquilo. O trabalho do ator não é solitário, ele precisa de direção e isso já pressupõe interação, contato. As artes cênicas dialogam com várias linguagens e isso já faz com que este profissional aprenda a lidar com seu ego e estabeleça relações que irão beneficiar seu trabalho. O dramaturgo escreve um texto que além de ser lido por várias pessoas é algo para ser visto por várias pessoas, então a grandeza de sua obra está em tranformar em movimento as suas palavras, ou seja, ele necessariamente produz algo que necessitará do auxílio do outro. Compreende então? Interação realmente é definição para o fazer teatral. Não é característica exclusiva desta linguagem mas certamente algo predominante na mesma.

Born To Lose: Você ensina teatro como disciplina no Colégio Salesiano Dom Helvécio e na Escola Nossa Senhora Auxiliadora. Como conjulgar teatro enquanto arte e teatro enquanto instrumento pedagógico? Você considera haver esta distinção?

Emerson de Paula: Bom, o contato com o fazer artístico, por si só, já promove conhecimento, aquisição de informações. O teatro na escola por exemplo antes de ser artístico ele é teraupêutico, ou didático e pode não apresentar um resultado artístico ao final do processo. O que importa nesse final é a tranposição do processo de aprendizagem para a vida diária. Eu, por exemplo ensino técnicas teatrais aos meus alunos mas em meio a isso há uma discussão mais ampla e recriação de situações para fortalecimento de idéias que serão usadas num novo contexto. Em meio a tudo isso o aluno também adquire um olhar estético. Concluo então dizendo que o teatro será pedagógico sempre e a relação arte-educação é algo possível. Mas certamente há alguma diferença entre a arte-educação e a arte-espetáculo.

Born To Lose: Vamos retomar um pouco a questão da política. Uma pergunta direta: o que a Secretaria de Cultura de Ponte Nova fez de fato até o momento em termos de insentivo à cultura em Ponte Nova? Estou me referindo à algo que garanta uma atividade cultural constante, portanto o Festival de Inverno não conta. (rs)

Emerson de Paula: Realmente fazer só eventos não garante uma política cultural efetiva. A Secretaria ainda precisa pensar em ações mais pontuais, mesmo que pequenas mas efetivas e que permitam continuidade. Vejo que as capacitações sobre projetos culturais em parceria com os orgãos estaduais e nacionais têm se mostrado importantes para a capacitação de gestores culturais o que tem influenciado a produção dos artistas locais e aprovação de propostas dos mesmos em editais. Vejo no programa sócio-artístico cultural que vai se iniciar em novembro, o ARTE PARA TODOS a oportunidade de oferecimento de atividades culturais(oficinas artísticas) aos bairros periféricos de Ponte Nova e que ajudará não só no despertar de talentos mas na formação de espectador para produções culturais o que fortalecerá o incentivo ao setor cultural pontenovense.

Born To Lose: Esta semana Ponte Nova comemora 143 anos. A Prefeitura decidiu fazer um Mega Show, trazendo a Banda Calcinha Preta para homenagear os 143 anos de nossa cidade. O cache de bandas como Calcinha Preta é exorbitante, poderia-se investir este dinheiro em uma comemoração do aniversário de Ponte Nova realizando uma agenda cultural que abrangensse os artistas da cidade por exemplo. Realizar oficinas de música, teatro, poesia, etecetera, de tal modo que a população fosse convidada a participar efetivamente da atividade cultural de Ponte Nova durante uma semana. Esse tipo de iniciativa poderia expressar com mais força as comemorações do aniversário da cidade do que uma banda que serve apenas como entretenimento para o povo. Parece-me que a prefeitura esta mais preocupada em entreter o povo do que conscientizá-lo ao optar por este tipo de comemoração. Além do que o dinheiro utilizado para promover o show da Calcinha Preta certamente poderia ser também utilizado para implementação de projetos culturais de longo prazo. Qual sua opinião acerca disso Emerson?

Emerson de Paula: A minha resposta é uma só: concordo plenamente com suas considerações, embora entenda que existe uma parcela da população que carece de algo que seja mais próximo a sua realidade. Então, ao meu ver, uma atividade cultural tem que agradar as várias parcelas da população mas uma gestão cultural pública tem a obrigação de proporcionar atividades que promovam uma construção estética e um olhar significativo no que tange a arte e suas linguagens. Tem que conseguir dialogar entre o popular e o erudito. Apresente oportunidades culturais diferenciadas ao povo, ele dá conta, ele responde.

Born To Lose: O NAED esta com uma peça em cartaz em Ponte Nova, A Linha da Pipa. Gostaria que você falasse um pouco mais detalhadamente sobre a Peça e tambem sobre o NAED. Como o grupo foi fundado, qual seu objetivo, etc..
Emerson de Paula: O NAED - NÚCLEO ARTÍSTICO EDUCACIONAL é um grupo organizado juridicamente que funciona como produtora cultural, escola de arte e prestador de serviços em arte-educação, meio ambiente e responsabilidade social. Surgiu quando ainda era aluno de artes cênicas da UFOP e atualmente atua consideravelmente na zona da mata mineira. Prestamos desde sua fundação, muitas consultorias pedagógicas, cursos, atividades recreativas e culturais, além de teatros empresariais. O espetáculo ...na linha da pipa... é o primeiro espetáculo, no sentido cultural e artístico, do NAED. Nossa função é intervir em Ponte Nova ampliando o olhar estético. De Ponte Nova para o mundo(srsrsrsr). Este espetáculo é um drama onde a direção geral e o texto são meus. Além disso no elenco estão Paluana Kerlen, que é de Ponte Nova e Michele Gabrielli que é de Viçosa. Vamos inovar utilizando uma trilha sonora original executada ao vivo contruída por Carlos Oliveira e Joe. Vamos apresentar um proposta diferente à Ponte Nova, um espetáculo de teatro-dança. Um drama que aborda uma questão universal, o amor, mas com uma discussão muito abrangente.E decidimos: ao final de cada espatáculo haverá um bate-papo com a platéia. Este é o nosso projeto de formação de público para espetáculos artísticos em Ponte Nova.

Born To Lose: Emerson, quero agradecer pela entrevista e deixar aqui um espaço para você mandar algum informe ou dicapara os leitores do blog.

Emerson de Paula: Eu é que agradeço a atenção e gostaria de saber quando minha entrevista será postada.
Gostaria apenas de dizer que agora não faço mais parte da Prefeitura Municipal de Ponte Nova pois fui aprovado no concurso para professor substituto para o curso de Artes Cênicas da UFOP e como tal aqui estou.
Meu espetáculo encerrará neste dia 29/11 o Festival de Teatro Amador da UFV. Fomos convidados para encerrar o evento antes da premiação dos grupos.
Até a próxima, abraços, axé,

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Lux Interior morreu e eu não sabia!



Muitos devem estar se perguntando por que a entrevista de dezembro ainda não foi postada, ou porque qualquer outra postagem ainda ao foi feita. A falta de atualização do blog deve-se ao fato de eu estar atolado de coisas pra fazer e que acabam inviabilizando a redação de um texto para postagem. Ainda esta semana a entrevista feita com o diretor e ator de teatro Emerson de Paula será postada. Poderia estar preparando isso agora, mas uma notícia chegou até mim, muito atrasada, diga-se de passagem, refiro-me à morte de Lux Interior. Não podia deixar de postar algo sobre esta desastrosa perda para a música em geral e em particular para o rock´n roll. Vamos a ela.

Lux Interior morreu em fevereiro deste ano. Eu soube disso apenas esta semana, a primeira de dezembro do mesmo ano da morte de Lux Interior. Enquanto a morte de Michael Jackson foi altamente divulgada, comercializada, noticiada à exaustão, o falecimento de Lux ficou anônimo a ponto de fãs do cara, como eu, sequer tomarem conhecimento do fato. É fácil compreender o que levou a morte do cara a passar desapercebida assim, ele não revolucionou a industria fonográfica como o Pequeno Michael, tampouco esteve entre as manchetes dos noticiários e jornais mundo a fora. Contudo o legado de Lux Interior é muito maior e importante do que fazer da música algo vendável.

Quero me redimir, deixar registrado a grande perda que foi a morte de Lux Interior. Caralho, me ocorreu agora que talvez a maioria de vocês que estão lendo este texto deva estar se perguntando “mas que porra é Lux Interior?”. Os aficionados por punk rock e pelo bom rock´n roll sabem que Lux Interior é o vocalista e fundador da banda The Cramps. Nunca ouviu falar? Esta é uma resposta que não me surpreende, contudo os que conhecem a banda sabem que não é exagero afirmar que o The Cramps foi responsável por levar o rock um passo adiante, pois criaram uma nova vertente do rock ao fundir o rockabilly ao punk rock, refiro-me ao psychobilly.

A banda foi formada oficialmente em 1976 em Nova York. Viveu o momento em que o punk começava a se constituir, o Cramps foi um dos elementos que possibilitou o surgimento do punk rock, que compartilhou as expectativas e idéias daquele momento em que o rock se revitalizava, voltava à ser jovem. Tocaram no CBGB quando a casa de shows era o único lugar em Nova York que aceitava aquele bando de jovens da blank generation, que não queriam saber de nada a não ser extravazar todos os sentimentos reprimidos por uma sociedade hipócrita, formada por instituições repressoras como a família e a escola.

Foi neste clima conturbado que o Cramps constituiu sua identidade e o Cramps tem uma identidade que tornar impossível rotular a banda, aproximar o som que fazem de qualquer outra, são sem dúvida nenhuma a banda que faz o som mais primitivo, simples, direto, cru da história do rock. Perto do som do Cramps, Ramones, Sonics, Stooges apresentam um som extremamente complexo. Contudo o som é extremamente envolvente devido ao alto teor de sensualidade, que se mistura à doses de agressividade, alucinação, irracionalidade e tudo mais que for antagônico ao equilíbrio “sadio” da razão.

Lux Interior e sua esposa Poison Ivy são os pilares da banda, que teve várias formações, mas sempre tendo Lux e Poison como integrantes até o fim da banda em fevereiro deste ano quando Lux morreu de complicações cardíacas. Lux e Poison eram vidrados em Filmes de Terror B, Sadomasoquismo, fetichismo, o que influenciou no modo como a natureza da banda se formou, bem como seu visual. O engraçado é que os membros do Cramps não adotavam aquele modo de se vestir e de agir apenas quando estavam como membros da banda, mas isso estava presente também em sua vida particular, ou seja, no dia a dia, Lux, Poison e os muitos integrantes que passaram pelo Cramps se vestiam como se estivessem numa feira de sex shop ou como se fossem personagens de filmes de terror b. O Cramps não era um trabalho, mas um modo de vida. A banda permaneceu no sub mundo durante toda sua trajetória, jamais abrindo mão de sua identidade, do modo como entendiam que a música deveria ser feita: para satisfazer suas necessidades psycho-subjetivas, a grana é importante, mas é conseqüência.

Eu tenho um vídeo do Cramps, que é o registro de um show da banda em um manicômio em Nova York senão me engano, peraí vou pegar a mídia e conferir. Ainda bem que peguei a mídia, caso contrário iria transmitir informações erradas a vocês. Na verdade o show dos caras foi na Califórnia no Hospital Mental do Estado da Califórnia na cidade de NAPA no dia 13 de junho de 1978, quando a banda tinha apenas dois anos de existência.

Bom, Jonhy Cash e B. B. King haviam gravado um álbum cada na cadeia, jô contudo os presidiários foram contidos de modo que permaneceram sentados em seus lugares, o que não impediu claro que o show fosse demais! Porra, mas o Cramps tocou para um público de malucos, literalmente, e o mais interessante é que a banda exigiu que os internos não sofressem qualquer tipo de repressão durante a apresentação, ou seja, não havia enfermeiros controlando as ações dos malucos. Houve interação entre público e banda de forma bastante íntima, claro que havia ali uma identificação recíproca, os Cramps não são o tipo de pessoas que você chamaria de normal. Recomendo que procurem esta apresentação e confiram esta experiência, que de modo algum foi feita de modo a promover a banda, pois o vídeo jamais foi lançado oficialmente, encontra-se este vídeo apenas na net entre alguns poucos que possuem o material, felizmente consegui encontrar um destes caras na net e passar a fazer parte deste pequeno grupo.

Certamente a banda decidiu fazer este show para satisfazer um desejo próprio, não sou capaz de pensar em outra coisa. A loucura, bem como temas sombrios são recorrentes nas canções da banda e nas performances de Lux Interior no palco. Os shows eram sempre imprevisíveis, Lux estava sempre em ponto de combustão, pronto para explodir o tempo todo. O palco era o lugar das explosões, sempre sob a regência do acaso Lux Interior estava a mercê dos acontecimentos, estava na mão do palhaço como dizem por ai. Mesmo aos 62 anos de idade, Lux ainda possuía a vitalidade do início, ainda era um espírito jovem, sedento por novas experiências. Lux morreu, o Cramps acabou e este texto é uma forma bastante simples de homenagear este espírito em fúria constante, que fazia emanar um outro espírito, composto de som, vindo ao mundo na música do Cramps.

Abaixo dois vídeos da banda, que retratam bem o que era o Cramps e seu líder Lux Interior.


http://www.youtube.com/watch?v=NVfIRSJFfis&feature=related