terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Insights, verdades absolutas e o papel da imprensa. Ou: a arte de evitar a interpretação.

                                           Por Carlos Inácio e Dalton Sanches

A Câmara Municipal de Ponte Nova abriu edital licitatório, no dia 22 de setembro de 2014, para contratação de serviço de pesquisa institucional de caráter quantitativo. O processo licitatório é o número 01/2014 - Pregão Presencial nº 01/2014 e pode ser consultado no site da Câmara Municipal de Ponte nova acessando o link: http://www.pontenova.mg.leg.br/licitacoes/editais/processo-licitatorio-no-01-2014-pregao-presencial-no-01-2014/. Segundo consta na nota de divulgação do edital de licitação, o objetivo da contratação desse serviço é o seguinte: “prestação dos serviços de realização de pesquisa quantitativa, de caráter exclusivamente institucional, sobre ações e serviços do Poder Legislativo Municipal e demais órgãos e instituições públicas sediadas no Município”.
A empresa vencedora da licitação foi a Insight Consultoria Empresarial, com sede em Itabira. Ela enviou à Câmara Municipal o relatório com o resultado da pesquisa, acessível através do link: http://www.pontenova.mg.leg.br/audio-das-reunioes/Relatorio%20Final%20Pesquisa.pdf. Analisamos o relatório e muitas questões referentes aos dados apresentados surgiram. A primeira página do documento apresenta o número de pessoas entrevistadas: 524, correspondendo a 0,92...% (menos de 1%) da população de Ponte Nova. Segundo a Insight, o percentual de confiabilidade do resultado é de 95%. Embora leigos quanto aos procedimentos técnicos utilizados na pesquisa, permanecemos com dúvida se, realmente, o percentual de 0,92...% da população reflete com tal grau de exatidão de confiabilidade o que pensam os outros cerca de 99,07...% da população que ficaram de fora da pesquisa.
Quanto aos critérios adotados pela Insight Consultoria, percebe-se de cara que houve uma grande assimetria no que tange aos dados qualitativos e quantitativos envolvidos no processo de avaliação dos órgãos administrativos, elaborados por essa empresa. Isto é, para os parâmetros de avaliação da Câmara Municipal, há uma gama enorme de critérios objetivos e subjetivos que suportam e qualificam a opinião do entrevistado em relação a essa instituição (vide págs. 13 e 14 do referido relatório), ao passo que, para as secretarias, os critérios são genéricos e arbitrários, fornecendo ao entrevistado apenas as opções “Muito bom”, “Bom”, “Regular”, “Ruim” e “NRS” (nenhuma das respostas). Decorre disso, portanto, certo descaso, de acordo com nossa análise, para com a avaliação das secretarias e suas respectivas funções na composição do corpo administrativo como um todo. Outro fator que não se deve desconsiderar é que, por meio das respostas fornecidas pelos entrevistados, relacionadas às suas impressões sobre a Câmara, tem-se um acúmulo de “feedbacks” os quais podem viabilizar ações pontuais de melhorias por parte dessa instituição do Legislativo. Para o caso das secretarias, ao contrário, os critérios “Bom”, “Ruim” etc. não contribuem de modo algum para que os seus agentes possam mapear e efetuar melhorias nos supostos setores que foram alvo de maiores críticas das pessoas entrevistadas pela pesquisa.   
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O resultado da pesquisa gerou repercussão no Facebook. Ayrton Pyrtz compartilhou, por meio de seu perfil nessa rede social, o scan de sua coluna cultural do jornal Líder (de 31 de dezembro de 2014 – Edição nº 105 – Ano 2), na qual veicula nota sobre tal pesquisa e cujo resultado de pequena parcela do relatório é anunciado quase como verdade absoluta. Os procedimentos adotados para realização da pesquisa foram desconsiderados, a única preocupação foi mostrar sumariamente o mau desempenho da Secretaria de Cultura na referida pesquisa. Basta analisar o relatório enviado pela Insight e constatar vários problemas, os quais geram questões que retiram a aparente natureza inquestionável do resultado. A primeira parte do nosso texto está preocupada em convidar o leitor a conjuntamente analisar os dados apresentados pela empresa de consultoria. Conforme podem ver, caros leitores, nossa conclusão ao ler o relatório é que, de modo algum, esse resultado possui natureza inquestionável. Tampouco consiste num reflexo preciso do que pensa a população pontenovense a respeito de como vem sendo a gestão das secretarias municipais. Havendo divergência na interpretação dos dados, basta que o leitor confronte nossa interpretação com a sua própria, sem deixar, evidentemente, de analisar cuidadosamente o relatório apresentado pela Insight.
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Devido ao tratamento dado à pesquisa pela coluna de Ayrton Pyrtz, houve surpresa e estranheza por parte de muitas pessoas ao saber, por meio dessa fonte, qual foi o resultado da pesquisa. O músico e poeta pontenovense Wesley Costa Melo publicou, também em seu perfil do Facebook, uma nota questionando o resultado da pesquisa. Costa Melo soube do resultado através da coluna de cultura do jornal acima citado, digitalizada e publicada no Facebook, mediante o perfil do colunista, como dissemos anteriormente. Tendo em vista o tratamento dado por Pyrtz ao resultado, ficam claros os motivos causadores da indignação de Costa Melo.
A única preocupação do colunista foi a divulgação do mal resultado alcançado pela Secretaria de Cultura e Turismo de Ponte Nova na referida pesquisa. Ayrton usa boa parte do espaço destinado à nota para exibir a imagem de um punho fechado com o polegar virado para baixo. Ícone universalmente conhecido como sinal de negatividade e reprovação, a imagem foi posicionada estrategicamente acima do texto. Ao direcionar seus olhos à nota, o leitor recebe todo o peso simbólico dessa imagem que o leva a formar uma opinião negativa acerca da informação que ainda nem leu. Tendo sua “interpretação” direcionada pelo apelo simbólico da imagem o leitor começa a ler o texto com o juízo negativo acerca do conteúdo que desconhece.  O texto passa a ter papel secundário em relação à imagem. Esta acaba assumindo a função principal de “informar” o leitor. Esse artifício retira do leitor apressado ou desprevenido a possibilidade de interpretar por si mesmo a notícia e formar sua opinião sobre o conteúdo da mesma. No caso do leitor mais cuidadoso, gera espanto e questões, como ocorreu no caso da postagem de Costa Melo.
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            A publicação gerou debate entre usuários da famosa rede social, os quais postaram suas opiniões sobre a provocação feita por Costa Melo, pontapé inicial para o debate, diga-se de passagem. Dentre os comentários da postagem, estava o de Luiz Gustavo Cota, assessor do secretário de cultura Emerson de Paula. Luiz Gustavo ressalta em seu comentário a importância do debate público, em que os meios de comunicação desempenham papel fundamental para a construção de uma concepção comum, nesse caso, a respeito da gestão pública de nosso município. Em defesa da Secretaria de Cultura e Turismo, Luiz Gustavo lista as atividades promovidas pelo órgão municipal. Extraímos o trecho de seu comentário no Facebook:

“Cito alguns, de diferentes áreas de atuação da secretaria:
 1º - o município conquistou sua melhor pontuação no ICMS do Patrimônio Cultural alcançando 12,55 pontos relativos ao trabalho realizado no ano de 2013, o dobro daqueles conquistados em ano anterior, referente ao trabalho de 2012 (6 pontos);
2º - o retorno ao município do Projeto Tim ArteEducação, com seis oficinas em curso;
3º - habilitação do município, pela primeira vez, no ICMS Turístico;
4º - conquista de recursos para construção do Centro Unificado das Artes (CEU das Artes), no valor de R$1.600.000,00, o que significa a criação do primeiro equipamento público cultural completo da cidade, com cineteatro, biblioteca, espaço para exposições e oficinas culturais;
 5º - retomada das obras do futuro Centro de Memória com recursos oriundos do ICMS do Patrimônio e do orçamento da SEMCT;
6º - primeira edição do edital do Sistema Municipal de Incentivo à Cultura, que selecionou três projetos culturais que serão realizados neste ano, primeira inciativa do gênero na história do município;
7º - a Biblioteca Pública Municipal Miguel Valentim Lanna foi uma das ganhadoras do Prêmio Boas Práticas e Inovação em Bibliotecas Públicas, promovido pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e pela Biblioteca Nacional pelo projeto Chá, Café & Poesia, realizado em parceria com a ALEPON, recebendo R$32.000,00 como prêmio a ser investido na Biblioteca;
8º - realização do 8º Festival de Inverno que contou com oficinas culturais oferecidas a comunidades rurais e bairros do município, tendo contado com parceria de movimentos culturais, como o 2º Festival de Inverno da Percepção Musical;
9º - avanço do projeto Ponte Nova + Arte, com a realização de oficinas em diversos bairros;
10º - realização da Secretaria Itinerante, em conjunto com a Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude em diferentes bairros;
11º - continuidade do Projeto de danças urbanas, em parceria com o Grupo Impacto e o Instituto Asas de Viçosa.
 Estas são ações ligadas a políticas públicas contínuas, não-eventuais, e que devem ter sua continuidade e/ou perenidade cobradas pela população. Abraços!”
           
Os eventos promovidos pela Secretaria de Cultura, acima citados, mostram o caráter ativo desse órgão público. Contudo, o fato é que, por algum motivo, a promoção destas atividades não pesou na formação do juízo da maior parte dos 524 entrevistados pela pesquisa. Certamente podemos citar a falta de divulgação entre as principais causas da desinformação das pessoas sobre o trabalho realizado pela Secretaria de Cultura. Referente à questão da divulgação dos eventos empreendidos pela Secretaria de Cultura, Luiz Gustavo afirma que estes são transmitidos aos órgãos de imprensa locais por meio da assessoria de imprensa da Prefeitura. Ressalta, contudo, que os meios de comunicação “... evidentemente, tem plena liberdade para reverberá-los ou não.”
            A imprensa é livre pra noticiar ou não determinada informação, está muito bem! Há de se lembrar serem os leitores, ao seu tempo, livres para interpretar a decisão desse ou daquele órgão de imprensa de divulgar ou não esta ou aquela informação, de analisar o modo como a notícia está sendo veiculada, bem como as possíveis intenções por detrás da notícia. Não podemos esquecer jamais que a imprensa é passível de críticas, as notícias devem ser interpretadas, analisadas e não acolhidas como verdades absolutas. Deixamos, portanto, aberta a questão: qual a decisão dos meios de comunicação de Ponte Nova quanto à publicação de notícias relacionadas às atividades da Secretaria de Cultura, da Prefeitura e da Câmara Municipal? Cabe aos leitores, ouvintes e espectadores aceitarem o convite feito pela pergunta e buscar entender as reais intenções da imprensa pontenovense em geral e dos veículos de comunicação em particular. 


2 comentários:

  1. Sabe, de imediato, uma pergunta: se 500 pessoas equivalem a 5%, quer dizer que a população de PN equivale a 10 mil pessoas? Já me perdi nessa conta ... De resto, preciso declarar minha ignorancia em relação aos debates em PN, principalmente esse da SEC. Quanto as noticias que recebo da SEC, que vejo pela midia, o trabalho q eu vejo acontecendo e os resultados que comemoro junto, tenho a dizer que a atuação da SEC nunca foi tão ativa, proativa, e eficiente como vem sendo na gestão Guto/Emerson. Há trabalho sério sendo feito, em sentidos vários, profundos, que nem se ve a olho nu, mas fazem um efeito enorme, como o ICMS cultura, o centro de cultura, etc etc. Alem disso, são shows de qualidade, muitas festas, muitas possibilidades de fruir e fazer cultura. De resto, continuo ignorando os blablablas, que considero uma perda de tempo ....

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  2. Prezada Maria Edith, agradecemos a observação! Cometemos um equivoco, os 5% são referentes à margem de erro da pesquisa. Na verdade, 524 pessoas correspondem à 0,9281...% da população de Ponte Nova, caso levemos em consideração o último censo do IBGE realizado em 2010. Nessa ocasião Ponte Nova contava com 57.390 habitantes. Agradecemos a observação Maria Edith, corrigiremos esses dados no texto.

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