terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Lux Interior morreu e eu não sabia!



Muitos devem estar se perguntando por que a entrevista de dezembro ainda não foi postada, ou porque qualquer outra postagem ainda ao foi feita. A falta de atualização do blog deve-se ao fato de eu estar atolado de coisas pra fazer e que acabam inviabilizando a redação de um texto para postagem. Ainda esta semana a entrevista feita com o diretor e ator de teatro Emerson de Paula será postada. Poderia estar preparando isso agora, mas uma notícia chegou até mim, muito atrasada, diga-se de passagem, refiro-me à morte de Lux Interior. Não podia deixar de postar algo sobre esta desastrosa perda para a música em geral e em particular para o rock´n roll. Vamos a ela.

Lux Interior morreu em fevereiro deste ano. Eu soube disso apenas esta semana, a primeira de dezembro do mesmo ano da morte de Lux Interior. Enquanto a morte de Michael Jackson foi altamente divulgada, comercializada, noticiada à exaustão, o falecimento de Lux ficou anônimo a ponto de fãs do cara, como eu, sequer tomarem conhecimento do fato. É fácil compreender o que levou a morte do cara a passar desapercebida assim, ele não revolucionou a industria fonográfica como o Pequeno Michael, tampouco esteve entre as manchetes dos noticiários e jornais mundo a fora. Contudo o legado de Lux Interior é muito maior e importante do que fazer da música algo vendável.

Quero me redimir, deixar registrado a grande perda que foi a morte de Lux Interior. Caralho, me ocorreu agora que talvez a maioria de vocês que estão lendo este texto deva estar se perguntando “mas que porra é Lux Interior?”. Os aficionados por punk rock e pelo bom rock´n roll sabem que Lux Interior é o vocalista e fundador da banda The Cramps. Nunca ouviu falar? Esta é uma resposta que não me surpreende, contudo os que conhecem a banda sabem que não é exagero afirmar que o The Cramps foi responsável por levar o rock um passo adiante, pois criaram uma nova vertente do rock ao fundir o rockabilly ao punk rock, refiro-me ao psychobilly.

A banda foi formada oficialmente em 1976 em Nova York. Viveu o momento em que o punk começava a se constituir, o Cramps foi um dos elementos que possibilitou o surgimento do punk rock, que compartilhou as expectativas e idéias daquele momento em que o rock se revitalizava, voltava à ser jovem. Tocaram no CBGB quando a casa de shows era o único lugar em Nova York que aceitava aquele bando de jovens da blank generation, que não queriam saber de nada a não ser extravazar todos os sentimentos reprimidos por uma sociedade hipócrita, formada por instituições repressoras como a família e a escola.

Foi neste clima conturbado que o Cramps constituiu sua identidade e o Cramps tem uma identidade que tornar impossível rotular a banda, aproximar o som que fazem de qualquer outra, são sem dúvida nenhuma a banda que faz o som mais primitivo, simples, direto, cru da história do rock. Perto do som do Cramps, Ramones, Sonics, Stooges apresentam um som extremamente complexo. Contudo o som é extremamente envolvente devido ao alto teor de sensualidade, que se mistura à doses de agressividade, alucinação, irracionalidade e tudo mais que for antagônico ao equilíbrio “sadio” da razão.

Lux Interior e sua esposa Poison Ivy são os pilares da banda, que teve várias formações, mas sempre tendo Lux e Poison como integrantes até o fim da banda em fevereiro deste ano quando Lux morreu de complicações cardíacas. Lux e Poison eram vidrados em Filmes de Terror B, Sadomasoquismo, fetichismo, o que influenciou no modo como a natureza da banda se formou, bem como seu visual. O engraçado é que os membros do Cramps não adotavam aquele modo de se vestir e de agir apenas quando estavam como membros da banda, mas isso estava presente também em sua vida particular, ou seja, no dia a dia, Lux, Poison e os muitos integrantes que passaram pelo Cramps se vestiam como se estivessem numa feira de sex shop ou como se fossem personagens de filmes de terror b. O Cramps não era um trabalho, mas um modo de vida. A banda permaneceu no sub mundo durante toda sua trajetória, jamais abrindo mão de sua identidade, do modo como entendiam que a música deveria ser feita: para satisfazer suas necessidades psycho-subjetivas, a grana é importante, mas é conseqüência.

Eu tenho um vídeo do Cramps, que é o registro de um show da banda em um manicômio em Nova York senão me engano, peraí vou pegar a mídia e conferir. Ainda bem que peguei a mídia, caso contrário iria transmitir informações erradas a vocês. Na verdade o show dos caras foi na Califórnia no Hospital Mental do Estado da Califórnia na cidade de NAPA no dia 13 de junho de 1978, quando a banda tinha apenas dois anos de existência.

Bom, Jonhy Cash e B. B. King haviam gravado um álbum cada na cadeia, jô contudo os presidiários foram contidos de modo que permaneceram sentados em seus lugares, o que não impediu claro que o show fosse demais! Porra, mas o Cramps tocou para um público de malucos, literalmente, e o mais interessante é que a banda exigiu que os internos não sofressem qualquer tipo de repressão durante a apresentação, ou seja, não havia enfermeiros controlando as ações dos malucos. Houve interação entre público e banda de forma bastante íntima, claro que havia ali uma identificação recíproca, os Cramps não são o tipo de pessoas que você chamaria de normal. Recomendo que procurem esta apresentação e confiram esta experiência, que de modo algum foi feita de modo a promover a banda, pois o vídeo jamais foi lançado oficialmente, encontra-se este vídeo apenas na net entre alguns poucos que possuem o material, felizmente consegui encontrar um destes caras na net e passar a fazer parte deste pequeno grupo.

Certamente a banda decidiu fazer este show para satisfazer um desejo próprio, não sou capaz de pensar em outra coisa. A loucura, bem como temas sombrios são recorrentes nas canções da banda e nas performances de Lux Interior no palco. Os shows eram sempre imprevisíveis, Lux estava sempre em ponto de combustão, pronto para explodir o tempo todo. O palco era o lugar das explosões, sempre sob a regência do acaso Lux Interior estava a mercê dos acontecimentos, estava na mão do palhaço como dizem por ai. Mesmo aos 62 anos de idade, Lux ainda possuía a vitalidade do início, ainda era um espírito jovem, sedento por novas experiências. Lux morreu, o Cramps acabou e este texto é uma forma bastante simples de homenagear este espírito em fúria constante, que fazia emanar um outro espírito, composto de som, vindo ao mundo na música do Cramps.

Abaixo dois vídeos da banda, que retratam bem o que era o Cramps e seu líder Lux Interior.


http://www.youtube.com/watch?v=NVfIRSJFfis&feature=related


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