sábado, 14 de agosto de 2010

A Manipulação Midiatica e os rumos das eleições 2010.

Esta semana os telespectadores do Jornal Nacional, o único da TV brasileira feito em família, puderam assistir o casal William e Fátima sabatinarem os candidatos à presidência da república. Logo de cara tivemos a Dilma Rousseff respondendo às perguntas, peraí, eu disse respondendo? Desculpem, tentando responder às perguntas do casal de apresentadores. Parece que o espírito de porco que acompanha o Faustão, agora Faustinho, baixou na bancada do Jornal Nacional, impedindo que a candidata do PT conseguisse completar um único raciocínio. Dilma Rousseff foi várias vezes deselegantemente interrompida, tanto por Bonner quanto por sua patroa.  Eu disse que eles foram deselegantes? Caros leitores, peço desculpas mais uma vez, foram muito mal educados! Ou quem sabe estivessem apenas seguindo o roteiro proposto pelo diretor do jornal.
A segunda entrevista foi dirigida contou com a participação da candidata do PV Marina Silva. Mais uma vez os apresentadores foram mal educados, impedindo que Marina concluísse uma única resposta na santa paz de Deus. Ao presenciar aquele modo truculento de entrevistar a candidata Dilma Rousseff, que mais lembrava um interrogatório, não pude deixar de lembrar do episódio de 1989, quando a Globo armou para o Lula naquele debate contra o Collor, produzindo o mais famigerado caso de manipulação por parte da emissora na história das eleições do chamado período “democrático” do nosso país.  Coloco o termo democrático entre parênteses, por considerar que ações como essa da Globo, pedem que repensemos o conceito de democracia no Brasil. Assim relembrando do histórico totalitário e truculento da emissora dos Marinho, fui levado a concluir que estavam armando pra Dilma, o que me levou a esperar com mais ansiedade pela entrevista do Tucano José Serra. Contudo, a falta de educação registrada também na entrevista da Marina Silva me levou a repensar os resultados de minhas reflexões,  resolvi esperar um pouco mais antes de tirar qualquer conclusão, para evitar possíveis acusações de estar sofrendo da síndrome da teoria da conspiração que vez por outra nos afeta.
Esperei a entrevista do Serra acreditando que o mesmo iria ocorrer, que na verdade o Casal global era apenas mal educado, não sabiam a hora e a vez de falar e se calar. Esta nova disposição de espírito levou-me à surpresa, isso porque José Serra não foi interrompido uma única vez, conseguiu concluir todos os seus raciocínios. Como não pensar que a entrevista do Serra foi favorecida pela emissora? Ao menos um preconceito foi derrubado, o de que William Bonner e Fátima Bernardes são mal educados. Eles são apena funcionários exemplares de sua empresa, que seguem à risca as orientações de seus patrões.
Como o Serra pode terminar suas respostar, concluir seus raciocínios sua entrevista acabou rendendo mais e até promovendo melhor o candidato em relação aos seus adversários, ou se quiserem, às suas adversárias. O que mais chamou a minha atenção na entrevista do Serra foi a tentativa de criar um vínculo de sua figura com o povo brasileiro, através da imagem do garoto de origem humilde, o que mexeu mais uma vez minha memória, rapidamente fui levado à imagem do menino Jesus, claro, como esquecer do menino Lula.
Serra apelou ao afirmar sua origem humilde, que na verdade não era lá tão humilde assim. Serra nunca passou fome, nunca pegou no pesado, pois os pais se sacrificaram ao máximo para fazer com que o filho estudasse e tivesse um futuro grandioso. Serra chegou onde chegou graças aos pais, teve uma base familiar sólida que o permitiu estudar e se tornar um homem bem sucedido, ao menos de acordo com os parâmetros da nossa sociedade. Serra vem de uma família de classe média, pelo amor de Deus, para um país como o nosso é o mesmo que nascer em berço de ouro.  O Serra quer ser o novo Lula, ao menos do ponto de vista biográfico, mas não tem nada a ver com o Lula, que teve que trabalhar para sustentar a família, vinda do sertão pernambucano, não pôde fazer o colegial como o Serra pensando na universidade, teve que ser pragmático e fazer um curso profissionalizante. Ora não me venha com essa Serra! Sua origem pode ser humilde segundo os padrões europeus ou norte americanos, mas para o padrão brasileiro é luxuoso. Seus pais como tantos outros, como os meus, se sacrificaram pelos filhos, para que esses tivessem algo melhor do que eles. Acho que o melhor seria respeitar esse sacrifício, sem o transformar em discurso demagógico, pensando que o povo vai se identificar com sua origem, pois muito mais da metade do povo brasileiro não faz idéia do que é ter a vida de um individuo da classe média, mas sabe muito bem o que é ter a origem de um retirante nordestino que vai atrás do pote de ouro paulista.
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Bom algum dos leitores pode terminar a leitura do texto acima e perguntar: e a Dilma que nasceu no seio de uma família burguesa e tradicional mineira, o que torna sua tradição ainda mais tradicional do que a das famílias de outros estados. Dilma Rousseff cursou o ensino fundamental no Colégio Nossa Senhora do Sion em Belo Horizonte, cuja educação se pautava na rigidez dos princípios do catolicismo. As meninas eram educadas para serem donas de casa exemplares, aprendiam todas as atividades necessárias à função de dona de casa burguesa. Até aí poderíamos pensar não ser possível à pequena Dilma fugir da formatação de uma personalidade reacionária e tradicionalista. Porém o ensino médio mudou os rumos da formação de Dilma. Prestou concurso e ingressou no Colégio Estadual Central (atual Escola Estadual Governador Milton Campos) onde cursou o curso clássico, atual ensino médio. Nesse momento entrou em contato com o movimento estudantil e começou a perceber que o seu mundo deveria ser algo mais que uma casa arrumada, eternas participações em eventos sociais acompanhada do almofadinha a quem deveria chamar de marido. Ingressou na política operária, fez parte do POLOP, organização oriunda do Partido Socialista Brasileiro que por sua vez deu origem ao Comando de Libertação Nacional (COLINA), grupo guerrilheiro cuja participação de Dilma Rousseff foi direta e ativa.
Dilma pode ter saído do berço da burguesia, assim como tantos outros líderes revolucionários, dentre eles Che e Fidel Castro, e como os citados, foi buscar a revolução ao invés de seguir comodamente a vida burguesa que suas famílias haviam lhes reservado. Tais exemplos nos mostram que a origem de uma pessoa não faz dela aquilo que ela é, se assim fosse Che, Fidel e Dilma, por exemplo, seriam hoje grandes burgueses, quem sabe capitalistas vorazes, Lula um simples peão da indústria e Serra herdaria a barraquinha de frutas do pai, estaria ainda no mercado gritando os preços das frutas. Não devemos esquecer nossa origem, porém não devemos fazer dela condição necessária para justificar aquilo que somos, nossa origem não determina nossa vida, esta é determinada a cada instante a partir do que escolhemos e concretizamos.
Devemos, portanto, estar atentos, procurar identificar os discursos vazios, utilizados para persuadir e não para esclarecer. A retórica da forma como vem sendo utilizada por determinados candidatos, objetiva construir uma imagem que consiga agregar votos aos mesmos, devemos ter cuidado para que manipulações midiáticas aliadas ao marketing eleitoreiro feito por alguns partidos substituam o voto como fator de decisão nas eleições deste ano.

Nas postagens abaixo, vocês podem conferir como foram as entrevistas de José Serra e Dilma Rousseff ao Jornal Nacional. 

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