Por Carlos Inácio e Dalton Sanches
A Câmara Municipal de
Ponte Nova abriu edital licitatório, no dia 22 de setembro de 2014, para
contratação de serviço de pesquisa institucional de caráter quantitativo. O
processo licitatório é o número 01/2014 - Pregão Presencial nº 01/2014 e pode
ser consultado no site da Câmara Municipal de Ponte nova acessando o link: http://www.pontenova.mg.leg.br/licitacoes/editais/processo-licitatorio-no-01-2014-pregao-presencial-no-01-2014/.
Segundo consta na nota de divulgação do edital de licitação, o objetivo da
contratação desse serviço é o seguinte: “prestação
dos serviços de realização de pesquisa quantitativa, de caráter exclusivamente
institucional, sobre ações e serviços do Poder Legislativo Municipal e demais
órgãos e instituições públicas sediadas no Município”.
A empresa vencedora da
licitação foi a Insight Consultoria Empresarial,
com sede em Itabira. Ela enviou à Câmara Municipal o relatório com o resultado
da pesquisa, acessível através do link: http://www.pontenova.mg.leg.br/audio-das-reunioes/Relatorio%20Final%20Pesquisa.pdf.
Analisamos o relatório e muitas questões referentes aos dados apresentados
surgiram. A primeira página do documento apresenta o número de pessoas
entrevistadas: 524, correspondendo a 0,92...% (menos de 1%) da população de Ponte Nova. Segundo a Insight, o percentual de confiabilidade
do resultado é de 95%. Embora leigos quanto aos procedimentos técnicos
utilizados na pesquisa, permanecemos com dúvida se, realmente, o percentual de
0,92...% da população reflete com tal grau de exatidão de confiabilidade o que pensam
os outros cerca de 99,07...% da população que ficaram de fora da pesquisa.
Quanto aos critérios
adotados pela Insight Consultoria,
percebe-se de cara que houve uma grande assimetria no que tange aos dados
qualitativos e quantitativos envolvidos no processo de avaliação dos órgãos
administrativos, elaborados por essa empresa. Isto é, para os parâmetros de
avaliação da Câmara Municipal, há uma gama enorme de critérios objetivos e
subjetivos que suportam e qualificam a opinião do entrevistado em relação a
essa instituição (vide págs. 13 e 14 do referido relatório), ao passo que, para
as secretarias, os critérios são genéricos e arbitrários, fornecendo ao
entrevistado apenas as opções “Muito bom”, “Bom”, “Regular”, “Ruim” e “NRS”
(nenhuma das respostas). Decorre disso, portanto, certo descaso, de acordo com
nossa análise, para com a avaliação das secretarias e suas respectivas funções
na composição do corpo administrativo como um todo. Outro fator que não se deve
desconsiderar é que, por meio das respostas fornecidas pelos entrevistados,
relacionadas às suas impressões sobre a Câmara, tem-se um acúmulo de
“feedbacks” os quais podem viabilizar ações pontuais de melhorias por parte
dessa instituição do Legislativo. Para o caso das secretarias, ao contrário, os
critérios “Bom”, “Ruim” etc. não contribuem de modo algum para que os seus
agentes possam mapear e efetuar melhorias nos supostos setores que foram alvo
de maiores críticas das pessoas entrevistadas pela pesquisa.
***
O resultado da pesquisa
gerou repercussão no Facebook. Ayrton Pyrtz compartilhou, por meio de seu
perfil nessa rede social, o scan de
sua coluna cultural do jornal Líder (de
31 de dezembro de 2014 – Edição nº 105 – Ano 2), na qual veicula nota sobre tal
pesquisa e cujo resultado de pequena parcela do relatório é anunciado quase
como verdade absoluta. Os procedimentos adotados para realização da pesquisa
foram desconsiderados, a única preocupação foi mostrar sumariamente o mau
desempenho da Secretaria de Cultura na referida pesquisa. Basta analisar o
relatório enviado pela Insight e
constatar vários problemas, os quais geram questões que retiram a aparente
natureza inquestionável do resultado. A primeira parte do nosso texto está
preocupada em convidar o leitor a conjuntamente analisar os dados apresentados
pela empresa de consultoria. Conforme podem ver, caros leitores, nossa
conclusão ao ler o relatório é que, de modo algum, esse resultado possui
natureza inquestionável. Tampouco consiste num reflexo preciso do que pensa a população
pontenovense a respeito de como vem sendo a gestão das secretarias municipais.
Havendo divergência na interpretação dos dados, basta que o leitor confronte
nossa interpretação com a sua própria, sem deixar, evidentemente, de analisar
cuidadosamente o relatório apresentado pela Insight.
***
Devido ao tratamento
dado à pesquisa pela coluna de Ayrton Pyrtz, houve surpresa e estranheza por
parte de muitas pessoas ao saber, por meio dessa fonte, qual foi o resultado da
pesquisa. O músico e poeta pontenovense Wesley Costa Melo publicou, também em
seu perfil do Facebook, uma nota questionando o resultado da pesquisa. Costa
Melo soube do resultado através da coluna de cultura do jornal acima citado,
digitalizada e publicada no Facebook, mediante o perfil do colunista, como
dissemos anteriormente. Tendo em vista o tratamento dado por Pyrtz ao
resultado, ficam claros os motivos causadores da indignação de Costa Melo.
A única preocupação do
colunista foi a divulgação do mal resultado alcançado pela Secretaria de
Cultura e Turismo de Ponte Nova na referida pesquisa. Ayrton usa boa parte do
espaço destinado à nota para exibir a imagem de um punho fechado com o polegar
virado para baixo. Ícone universalmente conhecido como sinal de negatividade e
reprovação, a imagem foi posicionada estrategicamente acima do texto. Ao
direcionar seus olhos à nota, o leitor recebe todo o peso simbólico dessa
imagem que o leva a formar uma opinião negativa acerca da informação que ainda
nem leu. Tendo sua “interpretação” direcionada pelo apelo simbólico da imagem o
leitor começa a ler o texto com o juízo negativo acerca do conteúdo que
desconhece. O texto passa a ter papel
secundário em relação à imagem. Esta acaba assumindo a função principal de
“informar” o leitor. Esse artifício retira do leitor apressado ou desprevenido
a possibilidade de interpretar por si mesmo a notícia e formar sua opinião
sobre o conteúdo da mesma. No caso do leitor mais cuidadoso, gera espanto e
questões, como ocorreu no caso da postagem de Costa Melo.
***
A publicação gerou debate entre
usuários da famosa rede social, os quais postaram suas opiniões sobre a
provocação feita por Costa Melo, pontapé inicial para o debate, diga-se de
passagem. Dentre os comentários da postagem, estava o de Luiz Gustavo Cota,
assessor do secretário de cultura Emerson de Paula. Luiz Gustavo ressalta em
seu comentário a importância do debate público, em que os meios de comunicação
desempenham papel fundamental para a construção de uma concepção comum, nesse caso,
a respeito da gestão pública de nosso município. Em defesa da Secretaria de
Cultura e Turismo, Luiz Gustavo lista as atividades promovidas pelo órgão
municipal. Extraímos o trecho de seu comentário no Facebook:
“Cito
alguns, de diferentes áreas de atuação da secretaria:
1º - o município conquistou sua melhor
pontuação no ICMS do Patrimônio Cultural alcançando 12,55 pontos relativos ao
trabalho realizado no ano de 2013, o dobro daqueles conquistados em ano
anterior, referente ao trabalho de 2012 (6 pontos);
2º
- o retorno ao município do Projeto Tim ArteEducação, com seis oficinas em
curso;
3º
- habilitação do município, pela primeira vez, no ICMS Turístico;
4º
- conquista de recursos para construção do Centro Unificado das Artes (CEU das
Artes), no valor de R$1.600.000,00, o que significa a criação do primeiro
equipamento público cultural completo da cidade, com cineteatro, biblioteca,
espaço para exposições e oficinas culturais;
5º - retomada das obras do futuro Centro de
Memória com recursos oriundos do ICMS do Patrimônio e do orçamento da SEMCT;
6º
- primeira edição do edital do Sistema Municipal de Incentivo à Cultura, que
selecionou três projetos culturais que serão realizados neste ano, primeira
inciativa do gênero na história do município;
7º
- a Biblioteca Pública Municipal Miguel Valentim Lanna foi uma das ganhadoras
do Prêmio Boas Práticas e Inovação em Bibliotecas Públicas, promovido pelo
Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e pela Biblioteca Nacional pelo
projeto Chá, Café & Poesia, realizado em parceria com a ALEPON, recebendo
R$32.000,00 como prêmio a ser investido na Biblioteca;
8º
- realização do 8º Festival de Inverno que contou com oficinas culturais
oferecidas a comunidades rurais e bairros do município, tendo contado com parceria
de movimentos culturais, como o 2º Festival de Inverno da Percepção Musical;
9º
- avanço do projeto Ponte Nova + Arte, com a realização de oficinas em diversos
bairros;
10º
- realização da Secretaria Itinerante, em conjunto com a Secretaria de Esportes,
Lazer e Juventude em diferentes bairros;
11º
- continuidade do Projeto de danças urbanas, em parceria com o Grupo Impacto e
o Instituto Asas de Viçosa.
Estas são ações ligadas a políticas públicas
contínuas, não-eventuais, e que devem ter sua continuidade e/ou perenidade
cobradas pela população. Abraços!”
Os eventos promovidos
pela Secretaria de Cultura, acima citados, mostram o caráter ativo desse órgão
público. Contudo, o fato é que, por algum motivo, a promoção destas atividades
não pesou na formação do juízo da maior parte dos 524 entrevistados pela
pesquisa. Certamente podemos citar a falta de divulgação entre as principais
causas da desinformação das pessoas sobre o trabalho realizado pela Secretaria
de Cultura. Referente à questão da divulgação dos eventos empreendidos pela
Secretaria de Cultura, Luiz Gustavo afirma que estes são transmitidos aos
órgãos de imprensa locais por meio da assessoria de imprensa da Prefeitura.
Ressalta, contudo, que os meios de comunicação “... evidentemente, tem plena liberdade para reverberá-los ou não.”
A
imprensa é livre pra noticiar ou não determinada informação, está muito bem! Há
de se lembrar serem os leitores, ao seu tempo, livres para interpretar a
decisão desse ou daquele órgão de imprensa de divulgar ou não esta ou aquela
informação, de analisar o modo como a notícia está sendo veiculada, bem como as
possíveis intenções por detrás da notícia. Não podemos esquecer jamais que a
imprensa é passível de críticas, as notícias devem ser interpretadas,
analisadas e não acolhidas como verdades absolutas. Deixamos, portanto, aberta
a questão: qual a decisão dos meios de comunicação de Ponte Nova quanto à
publicação de notícias relacionadas às atividades da Secretaria de Cultura, da
Prefeitura e da Câmara Municipal? Cabe aos leitores, ouvintes e espectadores
aceitarem o convite feito pela pergunta e buscar entender as reais intenções da
imprensa pontenovense em geral e dos veículos de comunicação em particular.