quinta-feira, 26 de março de 2009

Generacion Y: a nova revolução cubana


Lendo uma das edições eletrônicas da revista Piauí, deparei-me com uma reportagem cujo conteúdo assumiu ares de descoberta. O tema era a filóloga cubana Yoani Sanches, que em 2008 esteve na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo divulgada pela revista norte-americana Times.
O “poder” desta cubana franzina não vem da construção de relações dentro da política internacional, ela não é uma mega empresária cuja empresa possui filiais em todo mundo e nem possui um botão em seu apartamento com o qual pode ativar o lançamento de todo arsenal atômico americano e russo. A influência de Yoani se dá no campo das idéias. Não queridos amigos, ela não possui nenhum cargo entre os “homens de confiança” de Fidel, nem é jornalista, muito menos escreve para qualquer veículo de comunicação de grande porte. Yoani expressa suas idéias através de um instrumento usado por milhares de adolescentes de todo mundo, o blog. Ela transformou esse espaço que serve a muitos como simples agenda pública num instrumento de questionamento e reflexão, que tem colocado os governantes cubanos de cabelo em pé, ao menos o pouco de cabelo que ainda tem.
Quase diariamente são publicados textos em seu blog Generacion Y, que discutem questões referentes à realidade do povo cubano. Seu discurso é direto sem perder a elegância. As pessoas que mantêm blogs por aqui podem se admirar por alguém conseguir manter um fluxo de textos, mas pelo motivo errado. Ficarmos admirados com a produtividade de Yoani é ficar admirado pelo motivo errado, pois em Havana a internet é proibida à população, seu uso é restrito ao alto escalão do governo cubano. Existem apenas dois ciber-cafés na capital da Ilha e além destes dois locais, internet apenas nos hotéis. Em entrevista concedida à revista Veja a filóloga diz que para acessar a internet destes ciber-cafés, tem-se que enfrentar filas imensas, que podem levar até três horas de espera. Não é só tempo que se perde tentando acessar a internet em Cuba, os preços pelo acesso são excessivos e levam cerca de um quarto do salário do cubano. Yoani vive uma verdadeira odisséia todos os dias, não só para postar seus textos como para sobreviver.
Peço que ao acessarem o Generacion Y leiam em especial o perfil de Yoani, é uma leitura bastante forte, faz aflorar emoções de muitas espécies. Outra característica que impressiona no blog é a quantidade de postagens encontradas em cada um dos textos, alguns ultrapassam os mil comentários. A qualidade também é a marca destes comentários, muitos deles são verdadeiros textos críticos dialogando com a blogueira. Não é exagero dizer que Yoani inaugurou um modo de usar o blog e de se expressar via internet. O mundo reconhece seu trabalho, atacado pelo governo cubano, em muitos momentos até pelo próprio Fidel Castro. Generacio Y é um marco na reflexão política latino americana. Antes de terminar queremos ressaltar outro trabalho de Yoani o site desdecuba.com que mantêm com um grupo de amigos em Havana. Os links para o blog Generacio Y e o site desdecuba.com podem sem encontrados na sessão de links Sem Papas na Língua do nosso blog Born To Lose.

Confiram a entrevista de Yoani para a revista Veja, o link é:

http://veja.abril.com.br/280508/auto_retrato.shtml

Fidel ataca Caetano Veloso devido seu comentário a texto publicado pelo Generacion Y confiram:

http://www.obraemprogresso.com.br/tag/generacion-y/

3 comentários:

  1. Meu caro amigo,

    visitei o blog desta senhorita e não estou de acordo com as palavras dela. Como você mesmo sabe, tive o prazer de ficar um mês em Cuba no começo deste ano e o que mais se falava lá era sobre a abertura do governo dos EUA à Cuba e de cara, vejo palavras tendenciosas logo no primeiro/último post da Yoani. Como ela disse "Os jornalistas andam absortos em outros temas: a colheita de batatas, o mundial de beisebol, a revolução bolivariana e - está claro - os festejos pelo dia da imprensa cubana." é uma verdadeira mentira. Ao chegar em Cuba, fiquei até mesmo puto, pois não tinha nenhum festejo dos 50 anos de Revolução, tanto em Havana, quanto nas cidades interioranas. Tive o prazer de trazer muitos jornais/periódicos cubanos, desde do meio do ano passado ate os dias que estava lá e em todos, notícias importantes sobre o embargo e sua abertura.

    Discordo de você quanto ao conteúdo do blog dela, pra mim é de baixo conteúdo, pois ataca algo ao governo cubano que é inverídico. Não vi por exemplo, críticas a burocracia que o Estado exerce, os três problemas, alimentação, moradia e transporte que o Estado não consegue resolver e etc. Problemas que você encontra até sob tese de doutorado, a qual comprei por 50 centavos numa livraria em Havana e de alta qualidade.

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  2. Existem posts bem anteriores em que ela trata deste tema. Uma coisa é visitar um país, outra é viver nesse país, ainda mais sobre um regime autoritário. Muitas questoes colocadas pela Yoáni referem-se ao direito de se expressar livremente, coisa que o governo cubano nao permite, o proprio Fidel Castro deu ordem de nao deixá-la sair do pais. Isso meu caro é fato. Vai me dizer que nao há um controle do governo sobre o que se escreve nos jornais de Cuba? Vai me dizer que não há ditadura, que o direito de ir e vir das pessoas nao é vetado? Tudo bem você achar que Cuba é o paraíso passndo uma semana lá e baseado nesta experiencia discordar do que a Yoani diz, contudo acho um pouco pretencioso dizer que o conteudo do blog é de baixa qualidade. Isso Rogério, percebe-se facilmente que nao é, basta ler os textos desarmado, sem conceitos prévios, pra nao dizer pre conceitos. Pode ser que ela nao expresse a opiniao da maioria da populaçao cubana, mas ela tem a visao dela, aquelka condicao de vida nao a satisfaz portanto ela pode expressar sua insatisfaçao. E claro, é perfeitamente possivel argumentar contra o que ela diz, contestar linha por linha, o que nao pode é fazer juizo de valor.

    Gostei da postagem, botou lenha na fogueira. rs.

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  3. Não passei uma semana, passei um mês a qual tive a oportunidade de fazer três cursos, um congresso, de ir em 5 cidades cubanas, visitar escolas, centros culturais, pontos turísticos, Ministérios do governo a qual fui muito bem recebido e o mais importante, muitas casas de cubanos, que inclusive a família que mais gostei, me convidaram para o seu casamento e pode-se encontrar fotos deles em meu orkut, onde também mantemos contato via telefone e e-mail. Em Cuba tive a oportunidade de participar de manifestações contra o sionismo de Israel e a favor da Palestina, um ato maravilhoso que realmente você via a indignação dos cubanos em relação ao conflito. Alguns dias depois, vi alguns cubanos na rua gritando abaixo o comunismo, abaixo fidel, fidel é viado e etc. Fiquei abismado, pois os policiais que se encontravam perto dali, nao fizeram absolutamente nada, muito pelo contrário, até viraram o rosto; aliás, você quase não vai ver policiais em qualquer cidade em cuba, até na capital Havana.

    Existem milhares de jornais em Cuba e repito, trouxe alguns comigo, onde pode se ver críticas ferozes ao governo, principalmente o jornal "jeventude rebelde". Também trouxe revistas maravilhosas a preço menos que banana, que os próprios estudiosos cubanos encaram pau a pau os problemas do Estado. Essas revistas se chamam "Casa" e "Caminos", onde vc encontra textos de Saramago, Emir Sader, Boaventura de Souza Cruz, Paulo Freire e muitos outros.

    Qualquer cubano tem o direito de ir e vir! Isso já está mais que saturado em Cuba. Só oficiais das Forças Armadas que não podem sair do país. Quando você pra outro país, é este que deve aceitá-lo ou não e não o seu país de origem. Isso se chama concessão e muitos países não aceitam os cubanos, pois eles são mão de obra altamente qualificada e poderiam ser eventuais imigrantes.

    O Estado é o maior subsidiário de tudo que envolve publicações literárias, acadêmicas e jornalísticas, isso não significa dizer que é o único. O Estado por exemplo, não quis publicar um autor chamado Gutierrez, a qual tive o prazer de ler e pra mim é o segundo Paulo Coelho, por concluir que a escrita dele não tem representatividade nenhuma e certamente Paulo Coelho não seria publicado lá também. Esse autor simplesmente conseguiu apoio estrangeiro e de seu bolso e publicou seus livros. Você pode encontrá-los aqui ou lá. Acontece que lá, ele quase não é lido não pq o governo não quer, os próprios cubanos não desejam.

    Digo de baixa qualidade, por representar um conteúdo tendencioso e tacanho. Posso informar duas autoras qualificadas, gabaritadas que destroem muito mais o governo cubano ao que parece que essa garota quer, com muito mais classe, estudos, fundamentos, sem fazer nenhum discurso tendencioso. Os nomes dela são María Isabel Romero e Ania Mirabal.

    Ao pesquisar sobre essa garota com amigos que moram em Cuba, eles disseram que todos sabem da história dessa garota e que ela recebe uma boa grana em sua conta bancária daqueles que ficam solidários à sua causa e ela nunca foi proíbida por ninguém de sair de Cuba! Aliás, uma opinião minha, seria muito mais fácil conviver com alguém que te xinga, longe do morando na mesma casa.


    E claro, ela pode se manifestar quando quiser, não é o que ela está fazendo? Se o Estado Cubano fosse tão autoritário assim, já tinham cortado a internet dela e mandado-a para o paredão.

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