quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A Nova Face da Arte Pontenovense


        Nos últimos anos formou-se em Ponte Nova uma nova consciência de classe, cujos membros pertencem às mais variadas correntes artísticas. Significa que antes disso não havia uma classe de artistas em Ponte Nova? Havia, contudo não era organizada politicamente, o que a desprovia de uma consciência. Sendo assim, essa classe não sabia quais os seus direitos, tampouco seu papel político dentro da sociedade pontenovense e quais as ações que deviam ser feitas para fortalecerem a cultura e serem levados à sério. Os artistas lutavam isoladamente, havia o Grupo de Teatro do Pontenovense, dirigido por Hailton Karran, a poesia de Laenne Teixeira Mucci, as esculturas de Antônio Inácio (Boneca) e um celeiro musical fecundo, todos se conheciam, mas não perceberam que tinham objetivos e responsabilidades em comum, ou se perceberam nada fizeram.
   Citei alguns nomes que fazem parte de nossa história cultural, mas que não perceberam a força política que teriam caso se unissem. Vou mais longe, não perceberam sua responsabilidade política junto à sociedade pontenovense. Muitos deles tiveram que buscar seu reconhecimento artístico fora de Ponta Nova. Posso falar com mais propriedade do escultor Antônio Inácio (Boneca) que para ter realizado seu sonho de viver unicamente de sua arte teve que ir para Ouro Preto, cidade onde expõe suas esculturas há mais de vinte anos e as vende para pessoas de todo o mundo. O fato dessa geração de artistas não ter percebido a força que poderiam ter caso se articulassem politicamente levou Ponte Nova à não valorizar a arte e aqueles que a fazem.
Desta forma não havia pressão dessa classe sobre os governantes para que a área artístico-cultural de Ponte Nova se fortalecesse. Uma classe que abre mão de sua reponsabilidade política está fadada ao esquecimento, permitindo que as classes dominantes exerçam seu poder sobre ela da maneira como bem entenderem e foi o que fizeram. Assim, os governantes simplesmente fecharam os olhos às questões ligadas à arte e à cultura de nossa cidade. Passaram-se décadas, gerações, um novo milênio surgiu e Ponte Nova continuava desprovida de uma vida cultural.

Uma nova geração

Aqueles artistas tiveram, portanto, a sua parcela de culpa sobre o atraso na área artístico-cultural pontenovense, uma vez que deixaram os governantes a vontade para oprimi-los, privando a população de ter acesso à cultura e a si mesmos de viverem dela. Da mesma forma, a população brasileira tem sua parcela de culpa sobre a situação precária em que vive. Como seres políticos, temos o dever de agir politicamente, todos nós que fazemos parte da sociedade. Assim, cada um de nós tem sua parcela de culpa sobre os abusos e injustiças às quais somos expostos diariamente pelos governantes, empresários e bancários. Isso acontece porque na maioria dos casos optamos por não exercer nosso dever para com a sociedade em que vivemos.
Dentro desse contexto uma nova geração de artistas crescia, descobria seus talentos, caminhava em direção ao fazer artístico de seu interesse. Atores, músicos, artistas plásticos, poetas, dançarinos começavam o seu caminho nas artes numa cidade carente de incentivos nessa área. O fato de viverem em uma cidade do interior fez com que fosse inevitável que se encontrassem em algum momento e estabelecessem um vínculo de amizade uns com os outros. O amadurecimento artístico apontou apenas um caminho possível para que ganhassem a vida: sua arte. Assim artistas como Wesley Costa Mello, Davi Primavera e Emerson de Paula, não se contentaram em arrumar uma “profissão de verdade” e resolveram lutar por viver da arte sem ter que espera uma aposentadoria para fazê-lo. Considero esses três nomes e a atitude que tiveram como o fato que marcou o novo momento cultural que vivemos hoje em Ponte Nova. Essa atitude é sem dúvida o marco dessa geração, o que melhor a define. Tiveram coragem de arriscar viver de um trabalho que lhes realizasse como seres humanos, não o trabalho que anule, aquele repetitivo e sem sentido realizado durante oito horas por dia no interior das fábricas, atrás dos caixas, dos balcões, que não permite viver, mas apenas sobreviver. Perceberam que desempenhar outra atividade lhes tiraria a humanidade, os reduziriam à apêndices de circuitos mecânicos, pois o que é um caixa de supermercado, que não a extensão do seu caixa ou do seu balcão? 

Fatos decisivos

Wesley Costa Mello fundou a Percepção Musical, que ao contrário de tudo que surge em Ponte Nova, seja um bar, restaurante, indústria ou empresa, não deixou de existir. Fundada em 2009 a Percepção Musical cresceu e se fortaleceu, contando hoje com um bom número de professores que ensinam violão clássico, violão popular, canto, guitarra, acordeom, piano, saxofone, teoria musical e bateria há mais de cem alunos. Junto dos professores da Percepção e outros colaboradores, mantém há dois anos o projeto Tocando em Frente, realizado sempre na manhã dos último sábado de cada mês. 
Também na última década Davi Primavera munido da mesma vontade assumiu sua carreira musical,  compondo suas próprias canções, tocando em bares restaurantes e casas de show no interior mineiro. Uniu-se à Wesley na Percepção Musical assumindo o curso de violão popular em 2010 e hoje tem uma carreira musical consolidada e reconhecida em Ponte Nova e região. 
Nesta mesma década Emerson de Paula gradua-se em Teatro pela Universidade Federal de Ouro Preto, retorna à Ponte Nova e funda o NAED – Núcleo Artístico e Educacional, promovendo cursos, formando atores e montando peças. O teatro pontenovense ganha força e passa a ter na figura de Emerson de Paula seu principal divulgador.
No início de 2012 a relação entre o NAED e a Percepção Musical foi oficializada e comemorada por todos os artistas e pessoas ligadas à cultura pontenovense. Novas gerações de músicos, atores, dançarinos, produtores estão sendo formadas nessas duas INSTITUIÇÕES CULTURAIS de Ponte Nova. Compartilhando o mesmo espaço físico que proporciona diálogos entre os diferentes artistas vinculados a cada uma delas. Some a isso as pessoas interessadas em arte que o frequentam,  o fato de ser aberto a todos, mesmo que não sejam alunos, constitui um espaço de formação contínua.

A luta e suas conquistas

Tem início em Ponte Nova um processo de renovação cultural. Nos últimos cinco anos estes três personagens dessa renovação, passam a agregar em torno de suas ações vários artistas, inclusive aqueles de outras gerações. A classe artística vive um momento de fortalecimento na medida em que começam a se unir em torno de uma proposta em comum e a consciência dessa classe passa a se formar. Wesley Costa Melo e Emerson de Paula tomam a atitude decisiva, ao tomarem para si a responsabilidade política e começam a questionar sobre a condição da cultura e de seus agentes em Ponte Nova. O governo pontenovense passa a ter uma pedra em seu sapato e veem-se pressionados a levar a sério as questões culturais de nossa cidade. Com artigos incisivos publicados semanalmente na Folha de Ponte Nova Wesley Costa Melo não apenas põe o dedo na ferida, mas o aperta sem piedade obrigando que um debate seja estabelecido na esfera pública. Prefeito, secretários e vereadores são obrigados a sair da sua zona de conforto e responder às questões levantadas. Conquistas foram alcançadas, alguns projetos como o Tocando em Frente que acontece na manhã do último sábado de cada mês e que traz sempre uma atração artística da cidade, passaram a contar com apoio da secretaria de cultura. O Festival de Inverno de Ponte Nova, uma iniciativa da gestão do ex-prefeito Taquinho Linhares ganhou força, passou a trazer grandes atrações como João Bosco, Milton Nascimento, Marcus Vianna, dentre outros, além de incorporar à sua programação artistas pontenovenses. 
Apesar das conquistas, muito ainda deve ser feito. Falta à Ponte Nova espaços que possam ser usados pelos artistas para apresentarem seus espetáculos, shows, exposições, peças, etc, problema que pode ser resolvido com a criação de um Teatro Municipal, por exemplo. Não temos uma memória artístico-cultural oficial, a memória artístico-cultural é transmitida oralmente, em conversas entre pessoas do próprio meio artístico, necessitamos de um museu que preserve nossa memória histórico-cultural, além claro, de leis específicas que fortaleçam a arte e a cultura pontenovense. Certamente novos resultados serão alcançados, pois os governantes serão cobrados, terão que conviver com a participação direta da classe artistíca-cultural pontenovense, que além de lutar pela arte e cultura em seu tempo, prepara cultural e politicamente as próximas gerações. 



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