Nos
últimos anos formou-se em Ponte Nova uma nova consciência de classe, cujos
membros pertencem às mais variadas correntes artísticas. Significa que antes
disso não havia uma classe de artistas em Ponte Nova? Havia, contudo não era
organizada politicamente, o que a desprovia de uma consciência. Sendo assim,
essa classe não sabia quais os seus direitos, tampouco seu papel político
dentro da sociedade pontenovense e quais as ações que deviam ser feitas para
fortalecerem a cultura e serem levados à sério. Os artistas lutavam isoladamente,
havia o Grupo de Teatro do Pontenovense,
dirigido por Hailton Karran, a poesia de Laenne Teixeira Mucci, as esculturas
de Antônio Inácio (Boneca) e um celeiro musical fecundo, todos se conheciam,
mas não perceberam que tinham objetivos e responsabilidades em comum, ou se perceberam nada fizeram.
Apesar das conquistas, muito ainda deve ser feito. Falta à Ponte Nova espaços que possam ser usados pelos artistas para apresentarem seus espetáculos, shows, exposições, peças, etc, problema que pode ser resolvido com a criação de um Teatro Municipal, por exemplo. Não temos uma memória artístico-cultural oficial, a memória artístico-cultural é transmitida oralmente, em conversas entre pessoas do próprio meio artístico, necessitamos de um museu que preserve nossa memória histórico-cultural, além claro, de leis específicas que fortaleçam a arte e a cultura pontenovense. Certamente novos resultados serão alcançados, pois os governantes serão cobrados, terão que conviver com a participação direta da classe artistíca-cultural pontenovense, que além de lutar pela arte e cultura em seu tempo, prepara cultural e politicamente as próximas gerações.
Citei
alguns nomes que fazem parte de nossa história cultural, mas que não perceberam
a força política que teriam caso se unissem. Vou mais longe, não perceberam sua
responsabilidade política junto à sociedade pontenovense. Muitos deles tiveram
que buscar seu reconhecimento artístico fora de Ponta Nova. Posso falar com
mais propriedade do escultor Antônio Inácio (Boneca) que para ter realizado seu
sonho de viver unicamente de sua arte teve que ir para Ouro Preto, cidade onde expõe
suas esculturas há mais de vinte anos e as vende para pessoas de todo o mundo. O
fato dessa geração de artistas não ter percebido a força que poderiam ter caso
se articulassem politicamente levou Ponte Nova à não valorizar a arte e aqueles
que a fazem.
Desta
forma não havia pressão dessa classe sobre os governantes para que a área
artístico-cultural de Ponte Nova se fortalecesse. Uma classe que abre mão de
sua reponsabilidade política está fadada ao esquecimento, permitindo que as
classes dominantes exerçam seu poder sobre ela da maneira como bem entenderem e
foi o que fizeram. Assim, os governantes simplesmente fecharam os olhos às
questões ligadas à arte e à cultura de nossa cidade. Passaram-se décadas,
gerações, um novo milênio surgiu e Ponte Nova continuava desprovida de uma vida
cultural.
Uma nova
geração
Aqueles
artistas tiveram, portanto, a sua parcela de culpa sobre o atraso na área artístico-cultural
pontenovense, uma vez que deixaram os governantes a vontade para oprimi-los,
privando a população de ter acesso à cultura e a si mesmos de viverem dela. Da
mesma forma, a população brasileira tem sua parcela de culpa sobre a situação
precária em que vive. Como seres políticos, temos o dever de agir
politicamente, todos nós que fazemos parte da sociedade. Assim, cada um de nós
tem sua parcela de culpa sobre os abusos e injustiças às quais somos expostos
diariamente pelos governantes, empresários e bancários. Isso acontece porque na
maioria dos casos optamos por não exercer nosso dever para com a sociedade em
que vivemos.
Dentro
desse contexto uma nova geração de artistas crescia, descobria seus talentos,
caminhava em direção ao fazer artístico de seu interesse. Atores, músicos,
artistas plásticos, poetas, dançarinos começavam o seu caminho nas artes numa
cidade carente de incentivos nessa área. O fato de viverem em uma cidade do
interior fez com que fosse inevitável que se encontrassem em algum momento e
estabelecessem um vínculo de amizade uns com os outros. O amadurecimento
artístico apontou apenas um caminho possível para que ganhassem a vida: sua
arte. Assim artistas como Wesley Costa Mello, Davi Primavera e Emerson de Paula,
não se contentaram em arrumar uma “profissão de verdade” e resolveram lutar por
viver da arte sem ter que espera uma aposentadoria para fazê-lo. Considero
esses três nomes e a atitude que tiveram como o fato que marcou o novo momento
cultural que vivemos hoje em Ponte Nova. Essa atitude é sem dúvida o marco dessa geração, o que melhor a define. Tiveram coragem de arriscar viver de um trabalho que lhes realizasse como seres humanos, não o trabalho que anule, aquele repetitivo e sem sentido realizado durante oito horas por dia no interior das fábricas, atrás dos caixas, dos balcões, que não permite viver, mas apenas sobreviver. Perceberam que desempenhar outra atividade lhes tiraria a humanidade, os reduziriam à apêndices de circuitos mecânicos, pois o que é um caixa de supermercado, que não a extensão do seu caixa ou do seu balcão?
Fatos decisivos
Wesley
Costa Mello fundou a Percepção Musical, que
ao contrário de tudo que surge em Ponte Nova, seja um bar, restaurante,
indústria ou empresa, não deixou de existir. Fundada em 2009 a Percepção Musical cresceu e se fortaleceu,
contando hoje com um bom número de professores que ensinam violão clássico,
violão popular, canto, guitarra, acordeom, piano, saxofone, teoria musical e
bateria há mais de cem alunos. Junto dos professores da Percepção e outros colaboradores, mantém há dois anos o projeto Tocando em Frente, realizado sempre na manhã dos último sábado de cada mês.
Também na
última década Davi Primavera munido da mesma vontade assumiu sua carreira
musical, compondo suas próprias canções, tocando em bares restaurantes e casas de show no interior mineiro. Uniu-se à Wesley na Percepção
Musical assumindo o curso de violão popular em 2010 e hoje tem uma carreira
musical consolidada e reconhecida em Ponte Nova e região.
Nesta
mesma década Emerson de Paula gradua-se em Teatro pela Universidade Federal de Ouro Preto, retorna à Ponte Nova e funda o NAED – Núcleo Artístico e Educacional, promovendo
cursos, formando atores e montando peças. O teatro pontenovense ganha força e
passa a ter na figura de Emerson de Paula seu principal divulgador.
No
início de 2012 a relação entre o NAED e
a Percepção Musical foi oficializada
e comemorada por todos os artistas e pessoas ligadas à cultura pontenovense.
Novas gerações de músicos, atores, dançarinos, produtores estão sendo formadas
nessas duas INSTITUIÇÕES CULTURAIS de
Ponte Nova. Compartilhando o mesmo espaço físico que proporciona diálogos entre os
diferentes artistas vinculados a cada uma delas. Some a isso as pessoas
interessadas em arte que o frequentam, o fato de ser aberto a todos, mesmo que
não sejam alunos, constitui um espaço de formação contínua.
A luta e suas conquistas
Tem
início em Ponte Nova um processo de renovação cultural. Nos últimos cinco anos
estes três personagens dessa renovação, passam a agregar em torno de suas ações
vários artistas, inclusive aqueles de outras gerações. A classe artística vive
um momento de fortalecimento na medida em que começam a se unir em torno de uma
proposta em comum e a consciência dessa classe passa a se formar. Wesley Costa
Melo e Emerson de Paula tomam a atitude decisiva, ao tomarem para si a
responsabilidade política e começam a questionar sobre a condição da cultura e
de seus agentes em Ponte Nova. O governo pontenovense passa a ter uma pedra em
seu sapato e veem-se pressionados a levar a sério as questões culturais de
nossa cidade. Com artigos incisivos publicados semanalmente na Folha de Ponte
Nova Wesley Costa Melo não apenas põe o dedo na ferida, mas o aperta sem
piedade obrigando que um debate seja estabelecido na esfera pública. Prefeito,
secretários e vereadores são obrigados a sair da sua zona de conforto e
responder às questões levantadas. Conquistas foram alcançadas, alguns projetos
como o Tocando em Frente que
acontece na manhã do último sábado de cada mês e que traz sempre uma atração
artística da cidade, passaram a contar com apoio da secretaria de cultura. O Festival de Inverno de Ponte Nova, uma
iniciativa da gestão do ex-prefeito Taquinho Linhares ganhou força, passou a
trazer grandes atrações como João Bosco, Milton Nascimento, Marcus Vianna,
dentre outros, além de incorporar à sua programação artistas pontenovenses.
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