quinta-feira, 22 de julho de 2010

Paisagens de uma mente conturbada



Sentado na grama do morrinho usando um par de olhos, assisti o sol brotar no horizonte e inundar a paisagem com seus raios luminosos. No rosto uma expressão de deslumbramento; a felicidade de presenciar aquele acontecimento! Respirar a atmosfera que a aurora começava a compor e ouvir o som do mar quebrando nas rochas, causava a sensação... uma mescla de euforia e prazer, aqueles instantes que antecedem a grande enxurrada  do orgasmo. Havia ali um processo de criação em marcha! Ali uma obra de arte era concebida! Uma obra de arte que durava até o sol estender-se por completo no horizonte. Esse momento não cativava a toa, era a representação daquilo que queria encontrar na própria vida.
            A fugacidade do por do sol levava à frustração a que chegam os amantes após o gozo e a vida, como sempre a conhecia, surge novamente. O horizonte desaparece; em seu lugar surge a cidade. Em todo canto a impossibilidade de admirar o horizonte. À direita edifícios; à esquerda muros; à frente uma avenida que parece findar numa curva, o mesmo ocorrendo à minha retaguarda. Dentro da cabeça a explosão constante de idéias, imagens, sensações. Como fazer da vida criação? Como ser o artista a esculpir sua obra mais fascinante: o próprio viver! O convívio roubara aquele impulso criativo; roubara a coragem e a dor. Não era possível sentir dentro daquelas condições. Nenhuma sensibilidade poderia existir assim. Ahahah! Como é tênue a linha que divide a vida e a morte!!! E mesmo assim é difícil arrebenta-la. Acabava percebendo que o material para aquela obra, o objeto que constituiria a criação estava no esgoto, na escória, porque se não era de lá que tinha vindo é para lá que caminhava.

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