domingo, 25 de julho de 2010

Requien para um Mestre

O que pode fazer de um homem imortal? Talvez a maioria das pessoas apostaria suas fichas na evolução da ciência, ou quem sabe na fé de haver uma vida espiritual, alcançada pela morte do corpo como a melhor das respostas para essa pergunta. Ouso afirmar que alcançar a imortalidade depende de condições mais simples (será mesmo?), que mantém proximidade com a vida comum, do que a fé na ciência ou nos dogmas da religião. Paulo Moura tornou-se imortal fazendo algo simples, tocando clarineta e saxofone. Fez do instrumento musical parte de seu corpo, da música o principal atributo da sua alma. O chorinho e o samba circunscreveram sua musicalidade, sua forma de SER música, deixou pouco a pouco de ser apenas o indivíduo Paulo Moura até tornar-se Música. A imortalidade, portanto, é alcançada por quem realiza a si mesmo através daquilo que se é e que aos poucos deixa a sua condição particular para tornar-se universal. Paulo Moura passou por esse processo, metamorfoseou-se em Música, que mostra uma de suas formas de ser através da musicalidade Paulo Moura.
O vídeo presente nesta postagem mostra um corpo debilitado, próximo de seu fim, os movimentos mecânicos dos dedos que outrora permitiam a execução perfeita da melodia falham, mas para quem já não é mais apenas carne, que já não se reconhece mais como uma simples matéria a preencher um espaço, não vê nas dificuldades impostas pela doença a impossibilidade de realizar sua essência. O respeito e admiração do pupilo que ao piano carinhosamente prepara a harmonia para que o Mestre se despeça de sua condição de mortal, faz com que este ultimo solo adquira a beleza digna de uma obra prima.

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