sexta-feira, 10 de abril de 2009

Entrevista com a Artista Plástica Paula Inácio


Born To Lose – A primeira pergunta é uma espécie de ritual, ela será a primeira não só de sua entrevista, mas de todas as outras. O que você entende por arte, qual sua concepção particular do que seja arte? Seja o mais subjetiva possível.

Paula Inácio –
Caramba! Estremeço um pouco frente a perguntas o que é, mas como a resposta pode ser bem subjetiva, vamos la! A arte é algo que me toca, por exemplo, quando estou desenhando, sinto uma vontade enorme de chorar e ao mesmo tempo de sorrir, ao escutar uma música que muito aprecio o mesmo sentimento me invade, é um sentimento tão intenso que gosto de experimentar sozinha, não quero ninguém por perto. O mesmo acontece com a literatura, tem livros, poesias, que nos acontecem, que são inseparáveis de nós, caminham conosco, então a arte, no meu entendimento, é essa experiência bem singular, que nos tira um pouco do ter que fazer, ter que ser diário e nos faz sentir angústia, alegria...

Born To Lose –
Seus trabalhos com desenho apresentam uma característica bastante particular, seus traços expressam um modo próprio de constituição das imagens. Em alguns desenhos pode-se notar o uso de um instrumento não usual entre os desenhistas, que é aquela caneta de três cores da bic. O modo como faz seus desenhos tem alguma influência específica, você pensou primeiramente num modo de desenhar para em seguida partir para a prática? Como surgiu a idéia de usar a caneta de três cores em seus desenhos?

Paula Inácio –
Sim, as canetas! Na verdade não foi programado, mas aconteceu. Antes delas, fazia esboços com lápis e em seguida utilizava a tinta. Porém, quando fui morar em Salvador, em 2005, não tinha espaço nem condições de pintar, e o único material que tinha disponível eram as canetas. Inicialmente comecei a experimentar com canetas azuis e pretas, e percebi que conseguia fazer efeitos e traços diferentes, que até então não tinha experimentado. Foi um período em que desenhava freneticamente, sempre estava rabiscando algo. Então comecei a ir às papelarias e comprar canetas de cores e pontas variadas, bem como papéis de diferentes cores e texturas. Gostei dos efeitos e acho que meus desenhos ficaram mais nítidos a partir de então. Até hoje as utilizo!

Born To Lose – Na verdade você respondeu apenas parte da pergunta. (rs) Você ficou nos devendo uma resposta para a outra parte da pergunta a respeito das influências sobre seu modo de desenhar: elas existem ou não? Ainda há uma terceira parte se prestarmos atenção. (rs) Houve uma reflexão previa de como você deveria desenhar?
Paula Inácio – É verdade! Então, penso que a influência primordial, ou o que me levou a desenhar, foi a convivência com meu pai e todo o ambiente que ele me proporcionou. Meu pai chama-se Antônio Inácio e o considero um grande escultor! Além das esculturas ele também desenha, quando criança, sempre encontrava desenhos dele dentro de alguns livros e até hoje os encontro. Esses desenhos são feitos à caneta e em pequenos pedaços de papel. Além disso, ele sempre nos proporcionou um ambiente que considero experimental, por que crescemos em meio a livros de arte, desenho, tintas, músicas, e tudo sempre a nossa disposição. Acredito que essa foi a influência primeira. Apesar de não ser estudiosa da pintura, um artista que gosto muito de apreciar as imagens é o Miró, me identifico bastante com sua obra. Em relação se houve ou não reflexão previa de como desenhar, não houve e até hoje não tem. Quando começo a desenhar não pré-defino o que vou desenhar, começo com um traço primeiro e a partir dele as possibilidades de construção de formas e imagens vão surgindo, são inúmeras possibilidades, mas apenas uma se delineia! Apesar do que, se observarmos há determinadas imagens que são constantes, mas os desenhos vão sempre se modificando. Tenho muita dificuldade, por exemplo, de representar uma determinada figura, ou desenhar algo em um sentido já orientado.

Born To Lose –
Considero esse um ponto forte de seu estilo. O fato de não ter estudado para pintar e desenhar, o que talvez lhe permitisse suprir essa dificuldade que você aponta de não conseguir reproduzir imagens, como retratos ou mesmo outros desenhos. O seu caso me parece o oposto daquele de Picasso que era um exímio retratista e usou dessa técnica, de um estudo rigoroso para chegar ao cubismo, que a um leigo pareceria algo feito por alguém com dificuldades em desenhar com perfeição. No seu caso a necessidade de desenhar parece se impor e meio que instintivamente você é levada a traçar suas telas, suprimindo as deficiências de ordem técnica. Levando em conta essas considerações, você acha que seria um exagero de minha parte dizer que o seu trabalho traz uma expressão artística original? Sem modéstia, por favor. rs

Paula Inácio –
Se formos analisar desta forma parece que sim, até então não tinha pensado sobre isso. Realmente nunca estudei desenho, técnicas de desenho, mas, no entanto, desenho. E, como você disse muito bem, é uma necessidade que sinto e a partir disso os traços vão surgindo.

Born To Lose – Esta talvez seja uma pergunta mais difícil de responder porque pega por um viés mais pessoal. Você é formada em pedagogia pela Universidade Federal de Viçosa, faz mestrado pela Universidade Federal Fluminense e é pedagoga da rede municipal de ensino de Cabo Frio – RJ. O que levou você a estudar pedagogia? Porque não procurou fazer o curso de artes plásticas, por exemplo?
Paula Inácio - Realmente é uma pergunta um pouco difícil..rs Bom, quando terminei o ensino médio, não tinha perspectivas do que gostaria de estudar, ou aprender profissionalmente, e o desenho ainda não se delineava como uma possibilidade concreta de estudo. Cursei pedagogia porque, dos cursos que a UFV oferecia na época, era o que eu achava possível de fazer. Confesso que hoje, apesar de atuar na profissão, não consigo me identificar com a atuação de um pedagogo na escola. Em relação ao curso de artes plásticas é aquilo mesmo, comecei a desenhar sem finalidades maiores, à medida que os desenhos se desenvolveram percebi que seria interessante estudar a história da arte, as técnicas de desenho e pintura, porém, já estava cursando a pedagogia e não tive ousadia de interromper o curso. Atualmente tenho vontade de aprender técnicas e instrumentos diferentes, devido às possibilidades de recursos que poderei utilizar para criar os meus desenhos. Hoje sinto mais essa necessidade do que quando comecei a desenhar.

Born To Lose –
Bem, você tem algum projeto artístico em mente, como está sua produção artística atual?

Paula Inácio -
Então, confesso que atualmente estou produzindo pouco e, por enquanto, não tenho nenhum projeto em mente. Tenho perspectivas de retomar assim que possível, mas por enquanto tenho desenhando bem esporadicamente.

Visitem o blog Curvas e Retas e conheçam mais sobre o trabalho da artista Paula Inácio. O link é http://curvaseretas.blogspot.com/.



4 comentários:

  1. Excelente entrevista, como prometido!! Sensacional essa troca. E agora que a fama está batendo a porta guardarei ainda mais o meu original aqui, depois valerá milhões...hehehe

    Abraço aos dois!

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  2. A oportunidade que seu blog oferece de conhecer minha Terra é muito gratificante . Parabéns!

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  3. Concordo com Lelei e acrescento: conhecemos nossa terra (eu, por exemplo, não sabia que a Paula também é artista plástica) e muitas outras que existem por trás das montanhas. Parabéns e obrigado Carlim, pelo blog e pela interlocução constante!

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