sábado, 25 de abril de 2009

Luis Henrique Tozo e as realidades possíveis

I

A presença maciça da tecnologia, principalmente a tecnologia digital, tem alterado violentamente a maneira como entendemos aquilo que denominamos “realidade”. Aceitando que conhecemos o mundo apenas através dos sentidos, então é possível afirmar que o conhecimento adquirido por meio deles possui caráter perceptivo e a representação deste mundo se dá pelas percepções colhidas via sentidos. Assim aquilo que chamamos realidade, não é mais do que um conjunto de percepções e não os fenômenos eles mesmos. Para ser mais preciso: quando olhamos pela janela à noite e vemos a lua no céu, não vemos a lua ela mesma, mas apenas uma percepção da lua. Estou tentando aqui aplicar o princípio empirista de David Hume, o qual sentencia que para toda idéia presente na mente há uma impressão responsável por gerá-la. Segundo Hume, tanto impressão quanto idéia são percepções, ou seja, tudo que existe em nossa mente, tudo o que sentimos através dos sentidos são percepções. Portanto, quando vemos a lua pela janela à noite, não vemos a lua ela mesma, mas a impressão da lua naquele momento, e quando lembramos daquele momento, não fazemos mais do que consultar a idéia referente àquele momento em que olhávamos para a lua no céu.
Esse pequeno recuo ao empirismo humeano não é gratuito, pretendo com isso mostrar que se tudo que conhecemos são percepções, e num primeiro momento entramos em contato com as impressões das coisas através dos sentidos, aquilo que chamamos de “realidade” não passa de percepções presentes na mente. Uma vez que captamos a “realidade” por meio dos sentidos, qualquer alteração sensorial nos apresentará a “realidade” de outra maneira, ou ainda, nos apresentará outra “realidade”. Dito isto podemos voltar à questão dos avanços tecnológicos e sua relação com a arte.

II

Quando a fotografia surgiu, tornou obsoleta a expressão da pintura através de uma técnica que buscava reproduzir com perfeição a “natureza”. Não havia sentido retratar uma paisagem ou uma pessoa, uma vez que este objetivo era alcançado com perfeição por este novo instrumento chamado máquina fotográfica. Houve então, o rompimento do artista com a natureza. A arte deveria neste momento explorar outros universos, deveria se voltar para aquilo que representava o rompimento com a natureza, ou seja, a substituição de nossas capacidades naturais de interagir com o mundo, de conhecê-lo, de percebê-lo, pelas novas capacidades que nós humanos estávamos adquirindo, quais sejam, as de conhecer, perceber e interagir com o mundo através de instrumentos que simulavam ou mesmo aumentavam os poderes dos nossos sentidos.
Alterados os poderes de nossos sentidos, alterou-se também a maneira como as percepções chegam à nossa mente, ou seja, considerando junto com Hume que não conhecemos mais que percepções, temos alteradas também a “realidade”, esta sempre de caráter perceptivo. O “real” ganha novas dimensões. A revolução digital alterou o modo como apreendemos o mundo, os detalhes que não podem ser percebidos a olho nu são alcançados sem maiores problemas pelo uso de máquinas digitais potentes, microscópios com poder de aumento impensável pelo homem comum, telescópios que alcançam distâncias apenas concebidas pelo uso da imaginação. A realidade com a qual passamos a nos confrontar está muito além daquela realidade percebida pelos sentidos sozinhos. As “próteses”, que são estes instrumentos responsáveis por aumentar a potência de nossos sentidos, levam-nos a uma realidade alternativa, uma espécie de “super-realidade”.
Estas transformações são um prato cheio para as artes visuais, que explorando estas novas possibilidades de construção da experiência estética, nos apresentam imagens fantásticas, possíveis apenas pelo uso criativo e expressivo do artista, que faz de algo frio e de uso específico, como são os instrumentos tecnológicos, meios pelos quais atingimos fins que colocam em evidência o potencial expressivo destas novas tecnologias.

III

Todas estas considerações acerca da relação entre arte e as novas tecnologias, tem como objetivo apresentar o trabalho do artista visual Luiz Henrique, Tozin para os amigos, que será nosso entrevistado do mês de maio aqui no Born To Lose. Tozin, assim como todos os nossos entrevistados, enveredou pelos caminhos da arte atendendo um chamado pessoal, uma necessidade tão aguda quanto o próprio ato de respirar, a necessidade de se relacionar com o mundo de maneira a privilegiar, ao menos para si mesmo, as questões que lhe afligiam. Instintivamente, podemos dizer, procurou os meios de saciar esta necessidade, foi assim que as artes visuais entraram em sua vida.
Trabalhar com artes visuais significa assenhorear-se de determinadas técnicas próprias à linguagem das artes visuais, portanto, ligadas à fotografia, ao vídeo, à computação gráfica, etc, bem como ter à disposição os instrumentos necessários à produção artística desta vertente, como máquinas fotográficas, um estúdio de trabalho, um computador de ponta, câmeras de vídeo, dentre outras coisas. Dá pra ver que não é barato ser um artista visual né não? Contudo, como todo bom artista, qual seja, aquele que procura de todas as maneiras satisfazer sua necessidade de expressão, Tozin iniciou seu trabalho através da câmera de seu celular: os resultados são surpreendentes! Não há exageros nesta exclamação, confiram com os próprios olhos algumas fotos feitas pelo artista com sua câmera de celular.








Tozin desbravou seu caminho de facão na mão e muita vontade dentro de si. Suas fotos nos oferecem uma realidade perceptiva diversa, que não pode ser percebida a olho nus. O uso da tecnologia como expressão artística é feito de modo bastante criativo por Tozin e sua fome por novas “realidades” não param por aí, confiram a entrevista que o artista gentilmente nos concedeu no próximo dia dez aqui neste mesmo blog. Então até lá meus amigos.

Querem conhecer um poco mais do trabalho de Luis Henrique Tozo, acessem seu blog, o endereço é http://umacoisafacil.blogspot.com/.

Um comentário:

  1. Já estou ansioso para eler essa entrevista!
    O trabalho de Tozin é simplesmente incrível!

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