Acessei meu facebook neste instante e passando os olhos pelos posts encontrei o texto abaixo de autoria de Danilo Cruz, um irmão há muito encontrado em terras baianas.Sendo esta a primeira vez que nosso blog é objeto de um texto, decidi publicá-lo aqui no Born To Lose de modo a compartilhar com os demais leitores as impressões desse leitor, colaborador, amigo e irmão que é o Danilo a respeito deste blog.
Ultimo da série: Memorias soteradas!!!!
Blogs & Utopia
Por Danilo Cruz
“Portanto, é a natureza de instrumento que é louvada nas virtudes,
quando se faz o elogio delas, e também o impulso cego dominante em cada
virtude, que não é mantido nos limites pelo interesse geral do
indivíduo; em suma: a desrazão da virtude, mediante a qual o individuo
se deixa transformar numa função do todo. O elogio das virtudes é o
elogio de algo privadamente nocivo – de impulsos que destituem o homem
do seu nobre amor-próprio e da força para suprema custódia de si mesmo –
É verdade que, para a educação e para a incorporação de hábitos
virtuosos, enfatiza-se uma série de efeitos da virtude, que fazem
parecer irmãs a virtude e a vantagem pessoal – e existe realmente essa
irmandade!” (Friedrich Nietzsche – A Gaia Ciência, pág.70, aforismo 21)
O renascimento do romantismo utópico é algo que hoje mais do que nunca
deveria ser estimulado. Em tempos de elogios cínicos de virtudes
empobrecedoras do individuo a favor da coletividade. Onde a virtude do
trabalho é colocada acima do desenvolvimento do mesmo (tanto do trabalho
quanto do individuo), é preciso resgatar a idéia de um enriquecimento
próprio em detrimento dos lugares comuns do que esta posto. Descobri a
beleza do adjetivo utópico no seu berço etimológico grego: u-tópos –
aquilo que não tem lugar. O virtual? O homem médio em plena era da
virtualidade é ensinado a desacreditar do que possa ser criado, de
qualquer movimento do vir-a-ser, do que ainda não está aí, nem aqui.
Se nos reapropriassemos de uma idéia forte de utopia, idéia
primordialmente imanente, pois não espera aquilo que virá do céu,
milagre ou dádiva, seria também necessário pensar-mos etimologicamente
na própria idéia de “Virtu”. A saber: “A virtus é a qualidade de um vir
digno desse nome, o que poderá ser... Pois o termo designa de modo
geral, a realização em cada um de sua natureza.” (Vocabulário Latino da
Filosofia, Jean-Michel Fontanier)
Assim pensamos que utopia e
virtude podem andar de mãos dadas, enquanto elementos possíveis de
criação. Para além de qualquer receita ética, gostaríamos de destacar
apenas que, mediante uma reapropriação de possibilidades que nos fazem
não perceber, não ser visto ou conhecido, é possível potencializarmos
nosso dia a dia, nossos anseios. Para além do olho único da TV, uma
busca de novos horizontes e agenciamentos, aprendizado pela dor do
isolamento e da solidão auto-proclamada. Solidão nos meios próximos como
único resquício capaz de pensar a si e a outrem. Espaço da alteridade
potente o suficiente para a corrida em busca da estética da
existência... Uma outra ecologia do virtual, como espaço e tempos
recuperados!O espaço virtual é uma selva não tenha dúvidas, porém também
um zoológico, determindados sitios carregam uma dupla potência,
reterritorializar e desterritorializar. Afinal os estratos sedimentam-se
e explodem em qualquer território e a internet não é diferente.
O
weblogger Carlos Inácio vem provando que na busca da criação de espaços
virtuais é possível sim, atualizar, traçar potentes agenciamentos
insuspeitos até então. Seu blog Born Too Lose, tem rizomatizado de forma
a compor linhas de fuga criadoras de resistência. Potencializando a
arte de um local remoto do nosso país: Ponte Nova. Ao mesmo tempo em que
dá visibilidade aos artistas locais, Carlim como é conhecido entre os
amigos de lá e de cá, desenvolve relevantes avaliações estéticas acerca
dos seus conterrâneos. Filho e irmão de artistas esse saxofonista,
violonista, filosofo profissional sem perder o amadorismo - causa de
toda paixão -, além de desenvolver sua escrita poética faz o que de
melhor se pode hoje em dia: faz o link. Fazer o link, não é simplesmente
se ligar a algo, antes deveríamos pensar no link como uma porta ou uma
flecha que nos leva ao desconhecido. Neste caso os trabalhos que nos são
apresentado, são de uma diversidade e qualidades impressionante: Artes
plásticas, fotografia, música e escultura.
A vontade de
escrever este pequeno texto surgiu justamente da percepção desta potente
movimentação. Perceber como um sentimento irrompe, e consegue congregar
multiplicidades num projeto onde a criação de um lugar (topos) é fruto
de uma atitude e de um objetivo individual (romântico). Movimento
minoritário por excelência, reconhecimento da possibilidade da criação
de outros enunciados, repatriamento dos filhos de uma terra localizada,
em pleno Virtual! Os modos de fazer se apresentam a todas as forças
criadoras no exato momento que essas se põem a dançar na beira do
abismo, afastando de si as certezas e objetivos pré-estabelecidos de
vantagem e engrandecimento egoísta. É hora de perceber o horizonte como
um deserto seco, rude, migrar até lá e povoa-lo, se atentar para esta
potência ecológica que pode ser o virtual, que cresce se prolifera pelos
quatro cantos do mundo, apróxima os homens e mulheres que possuem
interesses afins na mesma medida que domestica os que aqui/lá entram em
busca de um pequeno remédio contra o tédio.
Elemento que pode
ser de resistência, portfólio para artistas, busca de materiais
artísticos, democratização da informação, destruição definitiva do
copyright. Possibilidade de recriação subjetiva, elemento de
potencialização do auto-didatismo... Elencar as possibilidades e correr
para desbravar esta mata, encontrando suas próprias trilhas é a função
de cada um. Não há receita pronta nem para as virtudes nem para as
localizações. Não se deixar prender no zoológicos virtuais, a internet
será o nosso deserto, pombo correio e sinais de fumaça, uma seta lançada
na direção do futuro...
Ps: Para conhecer o trabalho do Carlos Inácio e dos agregados e blogs amigos que ele criou é só acessar:
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